terça-feira, junho 04, 2013

Jubiabá no Bar Lanterna
JUBIABÁ

Episódio Nº 33


Mas o negrinho ainda acompanha o homem. É que o charuto que ele fuma já está a mais de meio. E António Balduíno é doido por uma ponta de charuto.

O homem vai pensando em tudo o que o negro disse. Será então verdade o que esses pedintes todos dizem pela cidade? O homem vê a cara zangada de todos eles. De repente tem medo, joga o charuto fora, abotoa o paletó novamente e entra num botequim para beber e criar coragem.

António Balduíno se apossou da ponta de charuto e abre a mão onde está o níquel jogado pelo homem. É uma prata de dois mil réis. O negro a atira para o ar, apara na mão rápida e sai, correndo para junto dos outros que estão conversando sobre futebol.

 - Adivinhe quanto, negrada…

 - Quinhentos réis…

António Balduíno ri às gargalhadas altas:

 - Uma águia…

 - Dois mil réis?

 - Caiu que nem um patinho – António Balduíno faz um gesto de desprezo – Eu cá sei cantar…

Agora riem todos em risadas claras e soltas. Os homens que passam vêm apenas um grupo de meninos negros, brancos e mulatos que mendigam. Mas na verdade é o imperador da cidade e a sua guarda de honra.



Quando vinham grupos de mulheres elegantes, vestidas de seda cara, rostos pintados espalhando sorrisos, António Balduíno soltava um assobio especial e o grupo se juntava todo.

Ficavam em fila. O Gordo desta vez ia na frente porque tinha uma voz triste de esfomeado. E uma cara parada de idiota. O Gordo botava as mãos no peito, fazia uma cara muito compungida e se dirigia ao grupo de mulheres.

Parava diante delas, impedindo que elas continuassem o passeio, os negros as cercavam e o Gordo cantava:

“Esmola para sete ceguinhos…
eu sou o mais velho,
esse é o segundo, os outros estão em casa.
Papai é aleijado,
Mamãe é doente,
Me dê uma esmola pra sete orfãozinhos,
São todos ceguinhos…”

O gordo quando acabava estava quase chorando, muito contrito, uns olhos tristes, parecendo mesmo um ceguinho, com seis irmãos ceguinhos, a mãe doente, o pai aleijado, sem ter comida na casa pobre. E não parava:

“Esmola para sete ceguinhos…
eu sou o mais velho…

Esticava o dedo para o que estava mais perto:

“esse é o segundo…

No fim estendia as mãos gordas abrangendo o grupo e berrava:

“… sete orfãozinhos
São todos ceguinhos…

Os outros faziam coro:

“são todos ceguinhos…


Site Meter