quinta-feira, junho 27, 2013



MONOTEÍSMO



O grande mal indizível no centro da nossa cultura é o monoteísmo. A partir de um texto bárbaro da Idade do Bronze conhecido como Antigo Testamento, evoluíram três religiões anti-humanas – o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Trata-se de religiões de um deus do céu. São literalmente patriarcais – Deus é o Pai Todo-Poderoso – daí o desprezo pelas mulheres desde há 2.000 anos nos países atormentados por esse deus do céu e pelos seus representantes masculinos na terra.

Gore Vidal (escritor norte-americano nascido em 1925)


A mais velha das três religiões abraâmicas, e nítido antepassado das outras duas, é o judaísmo: originariamente era um culto tribal de um único Deus ferozmente antipático, doentiamente obcecado por restrições sexuais, pelo cheiro da carne queimada, pela sua própria superioridade relativamente aos deuses rivais e pela exclusividade da tribo do deserto que elegeu como sua.

Durante a ocupação romana da Palestina, o Cristianismo foi fundado por Paulo de Tarso enquanto facção do Judaísmo, uma facção menos implacavelmente monoteísta e também menos fechada que, levantando os olhos do meio dos judeus, os erguia para o resto do mundo.

Vários séculos mais tarde, Maomé e os seus seguidores regressaram ao monoteísmo intransigente da versão original judaica, embora sem a sua vertente exclusivista.

Fundaram, assim, o Islamismo com base num novo livro sagrado, o Corão ou Quran, ao qual acrescentaram uma poderosa ideologia de conquista militar para a propagação da fé.

Também o Cristianismo se propagou por meio da espada, brandida primeiro pelas mãos dos Romanos – depois do Imperador Constantino o ter promovido de culto excêntrico a religião oficial – posteriormente pelos cruzados e, mais tarde, pelos conquistadores espanhóis e outros invasores e colonos europeus, com o respectivo acompanhamento missionário.

Para os meus objectivos presentes, as três religiões abraâmicas podem ser, de um modo geral, tratadas como indistintas.

Salvo menção em contrário, terei sobretudo em mente o Cristianismo, mas apenas porque é versão que me é mais familiar.

Para os referidos objectivos, as diferenças têm menos importância do que as semelhanças. E não visarei minimamente outras religiões, como o Budismo e o Confucionismo. Na verdade há razões para afirmar que não se trata de religiões, mas sim, sistemas éticos ou filosofias de vida.


A simples definição da Hipótese Deus com que comecei este capítulo tem de ser substancialmente descarnada se a quisermos aplicar ao Deus abraâmico. Ele não só criou o universo, como é também um Deus “pessoal” que habita dentro desse universo, ou talvez fora dele (o que quer que isso signifique), possuindo as qualidades desagradavelmente humanas às quais já aludi.
(continua)

Site Meter