quarta-feira, julho 24, 2013

Andava pelos 18 anos mas parecia ter 25...
JUBIABÁ

Episódio Nº 66


- Você arranje uns cabelos dela e traga que eu faço tudo – respondeu Jubiabá.

E desfilaram ante o pai de santo todos aqueles negros que queriam fazer despachos. Alguns foram rezados com ramos de mastruço. Era assim que a madrugada se enchia na madrugada seguinte de coisas feitas que entulhavam as ruas e das quais os transeuntes se afastavam receosos. Vinha muitas vezes gente rica, doutores de anel, ricaços de automóvel.

Quando António Balduíno entrou na sala era um soldado quem estava falando com o pai de santo. Ele procurava falar baixo, mas estava emocionado e todos ouviam a sua voz.:

 - …parece que não gosta mais de mim… deu para não ouvir o que eu digo… acho que está embeiçada por outro… mas eu não quero, pai… eu quero ela pra mim… eu gosto dela… sou doido por ela…

A voz do soldado estava chorosa. Jubiabá perguntou qualquer coisa e ele respondeu:

 - Maria dos Reis…

António Balduíno estremeceu e logo sorriu. Começou a prestar atenção à conversa. Mas Jubiabá estava despedindo o soldado.

 - Só trazendo uns cabelo do sovaco dela e uma ceroula sua. Eu faço que ela nunca mais largue vosmecê… Fica amarrada como cachorro…

O soldado saíu de cabeça baixa, sem olhar para os presentes, procurando não ser visto.

António Balduíno chegou para perto de Jubiabá, sentou no chão.

 - Parece que ele gosta mesmo dela…

 - Você conhece, ela Baldo?

 - Não é aquela que Oxalá pegou na festa?

 - O soldado gosta dela, vai fazer despacho… Tome cuidado Baldo…

 - Não tenho cagaço de soldado…

 - Mas ele gosta dela…

 - Parece mesmo, gente…

Ficou esgravatando o chão com um pedaço de pau. Andava pelos dezoito anos mas parecia ter vinte e cinco. Era forte e alto como uma árvore, livre como um animal e possuía a gargalhada mais clara da cidade.

 Largou Joana, nunca mais viu aquela desdentada que tinha uma voz masculina e cantava os seus sambas, não quis mais saber de cabrochas que iam para o areal.

Rondava em companhia do gordo a casa de Maria dos Reis. Fez um samba para ela, um samba que dizia assim.

Eu gosto é de você, Maria…
Você tem meu coração.
Eu fui malandro um dia
Mas agora é você quem me judia

Esse samba ele não quis vender. Cantou numa festa em que ela estava, olhando para ela. O soldado já andava desconfiado e não tinha ainda arranjado os cabelos do sovaco da noiva para levar a Jubiabá.


Maria dos Reis se contentava a sorrir.

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