Andava pelos 18 anos mas parecia ter 25... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 66
- Você arranje uns cabelos dela e traga
que eu faço tudo – respondeu Jubiabá.
E desfilaram ante o pai de santo todos
aqueles negros que queriam fazer despachos. Alguns foram rezados com ramos de
mastruço. Era assim que a madrugada se enchia na madrugada seguinte de coisas
feitas que entulhavam as ruas e das quais os transeuntes se afastavam receosos.
Vinha muitas vezes gente rica, doutores de anel, ricaços de automóvel.
Quando António Balduíno entrou na sala
era um soldado quem estava falando com o pai de santo. Ele procurava falar
baixo, mas estava emocionado e todos ouviam a sua voz.:
-
…parece que não gosta mais de mim… deu para não ouvir o que eu digo… acho que
está embeiçada por outro… mas eu não quero, pai… eu quero ela pra mim… eu gosto
dela… sou doido por ela…
A voz do soldado estava chorosa. Jubiabá
perguntou qualquer coisa e ele respondeu:
-
Maria dos Reis…
António Balduíno estremeceu e logo
sorriu. Começou a prestar atenção à conversa. Mas Jubiabá estava despedindo o
soldado.
-
Só trazendo uns cabelo do sovaco dela e uma ceroula sua. Eu faço que ela nunca
mais largue vosmecê… Fica amarrada como cachorro…
O soldado saíu de cabeça baixa, sem
olhar para os presentes, procurando não ser visto.
António Balduíno chegou para perto de
Jubiabá, sentou no chão.
-
Parece que ele gosta mesmo dela…
-
Você conhece, ela Baldo?
-
Não é aquela que Oxalá pegou na festa?
-
O soldado gosta dela, vai fazer despacho… Tome cuidado Baldo…
-
Não tenho cagaço de soldado…
-
Mas ele gosta dela…
-
Parece mesmo, gente…
Ficou esgravatando o chão com um pedaço
de pau. Andava pelos dezoito anos mas parecia ter vinte e cinco. Era forte e
alto como uma árvore, livre como um animal e possuía a gargalhada mais clara da
cidade.
Largou Joana, nunca mais viu aquela desdentada
que tinha uma voz masculina e cantava os seus sambas, não qui s mais saber de cabrochas que iam para o areal.
Rondava em companhia do gordo a casa de
Maria dos Reis. Fez um samba para ela, um samba que dizia assim.
Eu gosto é de você, Maria…
Você tem meu coração.
Eu fui malandro um dia
Mas agora é você quem me
judia
Esse samba ele não qui s vender. Cantou numa festa em que ela estava,
olhando para ela. O soldado já andava desconfiado e não tinha ainda arranjado os
cabelos do sovaco da noiva para levar a Jubiabá.
Maria dos Reis se contentava
a sorrir.
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