existência de Deus
Richard Dawkins – A “Desilusão de Deus”
(continuação)
Isto é um argumento? Também
podemos dizer que as pessoas variam em mau cheiro, mas só podemos fazer a
comparação tendo como referência um máximo perfeito de mau cheiro imaginável.
Por conseguinte, é forçoso
que haja alguém, notória e incomparavelmente fedorento, e a esse alguém
chamamos Deus.
Como se percebe é uma
argumentação tola que conduz a uma conclusão igualmente tola.
5º O Argumento Teológico ou
argumento do Desígnio
As coisas do mundo,
sobretudo as coisas vivas, têm o aspecto de obedecer a uma concepção, um
desígnio/desenho. Nada do que conhecemos tem aspecto de ter sido concebido a
menos que o tenha sido.
Assim sendo, teve que haver
um criador, ao qual chamamos Deus. O próprio Tomás de Aqui no
usou a analogia de uma seta dirigindo-se para um alvo, mas um moderno míssil
antiaéreo com sensor térmico serviria melhor o seu objectivo.
De todos estes argumentos o
único ainda utilizado é o do desígnio, sendo também, ainda para muitos, o
argumento infalível para arrumar com a questão.
O jovem Darwin deixou-se
impressionar por ele quando, ainda estudante universitário, leu o Natural
Theology de William Paley.
Infelizmente para Paley, o
Darwin da maturidade varreu por completo a sua teoria. Provavelmente nunca se
assistiu a uma debandada tão avassaladora de uma crença popular em consequência
de uma argumentação sagaz, como a destruição do argumento do desígnio por
Charles Darwin.
Foi algo completamente inesperado.
Graças a Darwin, deixou de ser verdade dizer que nada do que conhecemos tem
aspecto de ter sido concebido a menos que o tenha sido.
A evolução através da
selecção natural produz um excelente simulacro de criação, elevando-se a
prodigiosos primores de complexidade e elegância.
Os filósofos são aqueles
pensadores que descobrem coisas do mundo fora da realidade, mais através do seu
pensamento do que pela observação.
Reparem nesta argumentação
do filósofo australiano Douglas Gasking para “provar” que Deus não existe:
1º A criação do mundo é o
mais maravilhoso feito que se pode imaginar;
2º O mérito de um feito é o
produto:
a)
Da sua qualidade intrínseca.
b)
Da capacidade do seu criador.
3º Quanto maior a
incapacidade, ou as limitações, do criador mais impressionante é o feito.
4º A limitação mais
colossal, para um criador, seria a sua não-existência.
5º Assim, se supusermos que
o universo é produto de um criador existente podemos conceber um ser ainda
maior, nomeadamente, um ser que tudo criou, ainda que não exista.
6º Portanto, um Deus
existente não seria um ser maior do que aquele outro criador, ainda mais
colossal e incrível, por não existir.
Logo:
7º Deus não existe.
Escusado será dizer que
Gasking, não provou que Deus não existe. Esta foi apenas uma argumentação irónica,
humorística, uma espécie de “prestidigitação dialéctica”.
(continua)
(continua)
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