segunda-feira, julho 22, 2013

Na "Lanterna do Afogado"...
JUBIABÁ

Episódio Nº 64

 - Eu não sabia nada. O senhor me desculpe. Ela não me disse nada…

Saiu de costas e na primeira curva desapareceu. António Balduíno ria como um perdido. Joaquim que tinha ficado afastado, porque um homem é para um homem, se aproximou:

 - Deu certo, hein?

Riram os dois em gargalhadas alegres que despertavam a cidade adormecida. Veio um riso do chão. Era da mulherzinha que se levantava. Uma mulata desdentada bem clara, que nem valera a pena tanto esforço. Mas como não havia mesmo outra mulher o jeito que tiveram foi levarem a desdentada para o areal.

António Balduíno foi primeiro, depois foi Joaquim…

 - Não pagou a pena – fez Balduíno.

Deitou no cais, pegou de violão e começou a tocar. Joaquim meteu os pés na água. A mulher, que estava acabando de endireitar o vestido, chegou para perto deles e ficou cantando a cantiga que Balduíno tocava no violão.

Primeiro baixinho, mas logo depois em voz alta, e ela tinha uma voz bonita e esquisita, quase masculina. E encheu o cais com a sua voz, até que os homens dos saveiros acordaram, os marinheiros apareceram na amurada dos navios e o dia clareou sobre o mar.


Quando o dia clareou, naquela janela pobre do sobrado da Ladeira da Montanha, a mulher acordou o homem. Ele ia para uma fábrica distante e tinha de acordar cedo.

Disse para a mulher apontando o filhinho:

 - Essa coisinha à toa não me deixou dormir… Tou morto de sono – Sacudiu água na cara, olhou a manhã clara, bebeu o café ralo. A mulher avisou.

 - Não tem pão por causa do leite para a criança.

O homem fez um gesto de resignação, beijou o filho, bateu no ombro da mulher, puxou um cigarro vagabundo.

 - Mande a bóia ao meio-dia…

Quando desceu, na manhã que estava ficando azulada, para a Ladeira da Montanha, em caminho da fábrica, encontrou com António Balduíno e Joaquim que vinham com a desdentada atrás.

Balduíno gritou:

 -  - Jesuíno, é você?

Era Jesuíno que fora mendigo e moleque como eles. Estava quase irreconhecível de tão magro.

Joaquim riu:

 - Você está malzinho, mano…

 - Nasceu um filhinho meu, Baldo. Quero que você seja o padrinho. Um dia lhe levo para conhecer minha patroa…

Foi embora, ladeira abaixo, para a fábrica que ficava em Itapagipe. E ele tinha que ir a pé por causa do leite do filhinho.

A mulher estendia fraldas na janela e também era magra e pálida. Para ela não tinha ficado nem pão nem café.

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