Na "Lanterna do Afogado"... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 64
- Eu não sabia nada. O senhor me desculpe. Ela
não me disse nada…
Saiu de costas e na
primeira curva desapareceu. António Balduíno ria como um perdido. Joaqui m que tinha ficado afastado, porque um homem é
para um homem, se aproximou:
- Deu certo, hein?
Riram os dois em
gargalhadas alegres que despertavam a cidade adormecida. Veio um riso do chão.
Era da mulherzinha que se levantava. Uma mulata desdentada bem clara, que nem
valera a pena tanto esforço. Mas como não havia mesmo outra mulher o jeito que
tiveram foi levarem a desdentada para o areal.
António Balduíno foi
primeiro, depois foi Joaqui m…
- Não pagou a pena – fez Balduíno.
Deitou no cais, pegou de
violão e começou a tocar. Joaqui m
meteu os pés na água. A mulher, que estava acabando de endireitar o vestido,
chegou para perto deles e ficou cantando a cantiga que Balduíno tocava no
violão.
Primeiro baixinho, mas
logo depois em voz alta, e ela tinha uma voz bonita e esqui sita,
quase masculina. E encheu o cais com a sua voz, até que os homens dos saveiros
acordaram, os marinheiros apareceram na amurada dos navios e o dia clareou
sobre o mar.
Quando o dia clareou,
naquela janela pobre do sobrado da Ladeira da Montanha, a mulher acordou o
homem. Ele ia para uma fábrica distante e tinha de acordar cedo.
Disse para a mulher
apontando o filhinho:
- Essa coisinha à toa não me deixou dormir…
Tou morto de sono – Sacudiu água na cara, olhou a manhã clara, bebeu o café
ralo. A mulher avisou.
- Não tem pão por causa do leite para a
criança.
O homem fez um gesto de
resignação, beijou o filho, bateu no ombro da mulher, puxou um cigarro
vagabundo.
- Mande a bóia ao meio-dia…
Quando desceu, na manhã
que estava ficando azulada, para a Ladeira da Montanha, em caminho da fábrica,
encontrou com António Balduíno e Joaqui m
que vinham com a desdentada atrás.
Balduíno gritou:
- -
Jesuíno, é você?
Era Jesuíno que fora
mendigo e moleque como eles. Estava quase irreconhecível de tão magro.
Joaqui m
riu:
- Você está malzinho, mano…
- Nasceu um filhinho meu, Baldo. Quero que
você seja o padrinho. Um dia lhe levo para conhecer minha patroa…
Foi embora, ladeira
abaixo, para a fábrica que ficava em Itapagipe. E ele tinha que ir a pé por causa do
leite do filhinho.
A mulher estendia fraldas
na janela e também era magra e pálida. Para ela não tinha ficado nem pão nem
café.
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