sexta-feira, julho 19, 2013

Aquela, Joaquim, está aili., está comida...
JUBIABÁ

Episódio Nº 63



Lembrou-se de Zumbi dos Palmares. Se tivesse havido outro Zumbi aquele velho não teria sido chicoteado. Seria um lutador. Então não precisaria de se envergonhar do homem branco.

O homem saíra num gesto de solidariedade, e não voltaria jamais. Porém um dia aquele homem iria escrever o A B C de António Balduíno, um A B C heróico, onde contaria as aventuras de um negro livre, alegre, brigão, valente como sete.

Pensando nisso António Balduíno se alegrou de novo e riu:

 - Sabe de uma coisa, Joaquim? Eu acabo tirando o cabaço daquela negrinha…

 - De qual? – Joaquim se interessou vivamente.

 - Maria dos Reis. Ela tá toda caída pró meu lado…

 - Qual é?

 - Aquela que Oxalá pegou. Aquela novinha…

 - Aquilo é coisa fina, Baldo. Ela é noiva de um soldado do exército. Você vai meter-se em funduras…

 - Quem disse… Ela está caidinha pelo degas… Tenho nada com o soldado. Chamo a morena nos peitos, isto sim… O soldado que se dane. – Joaquim bem sabia que António Balduíno amaria a mulata sem se importar com o soldado.

Mas ele não gostava de barulho com soldado do exército e aconselhou:

 - Deixe a morena em paz, Baldo…

Esquecera que António Balduíno quando morresse ia ser contado num A B C e que todos os heróis de A B C amam donzelas com quem se amigam romanticamente, pelo espaço de uma noite e brigam com soldados do exército.


Andaram a cidade baixa que estava dormindo. Não encontraram ninguém para fazer uma farra. A “Lanterna dos Afogados” estava fechada. Ninguém pelas ruas, nem uma cabrocha para levarem para o areal.

Nem uma venda onde bebessem um “rabo de galo”. Foram andando ao léu, Joaquim abrindo a boca com sono. Entraram por um beco e viram, então, um casal de mulatos que conversavam como namorados recentes. Joaquim avisou:

 - Uma mulata, seu mano…

 - Aquela, Joaquim, está ali, está comida…

 - Tá com um macho, Baldo.

 - Você vai ver as minhas artes…

E de um pulo António Balduíno se aproximou da mulata. Deu-lhe um empurrão com força, a mulher caiu na rua.

Então, sinhá cachorra, eu fico trabalhando e você vem se esfregar com um macho… Sem vergonha, vai ver a surra que vai levar. – Virou-se para o mulato. Mas antes que dissesse alguma coisa este perguntou:

 - Ela é sua amásia? Eu não sabia…

 - Minha amásia? É minha mulher, casada no padre, ouviu? No padre…

Avançava para o homem.  

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