(Parte V)
Richard
Dawkins – “A Desilusão de Deus”
Existem 435 membros da Câmara dos
Representantes e 100 membros do Senado. Supondo que estas pessoas constituem
uma amostra reveladora do conjunto da população, é absolutamente inevitável, do
ponto de vista estatístico, que um número considerável seja ateu.
Devem ter mentido ou ocultado os seus
sentimentos, para poderem ser eleitos. Dado o eleitorado que tinham de
convencer quem pode culpá-los?
É universalmente reconhecido que uma
admissão de ateísmo seria um suicídio político imediato para qualquer candidato
presidencial.
Estes factos respeitantes ao actual
ambiente político vivido no E.U. e aqui lo
que eles implicam teriam horrorizado Jefferson, Washington, Madison, Adams e
todos os seus amigos.
Fossem eles ateus, agnósticos ou cristãos
ter-se-iam encolhido de pavor perante os teocratas da cidade de Washington
desde o início do Séc. XXI.
A pobreza dos Agnósticos
O padre que arengava do púlpito da
capela da minha escola, permitia-se sempre uma certa consideração furtiva pelos
ateus.
Pelo menos, tinham a coragem de assumir
as suas transviadas convicções. Uns papa-açordas, tem-te-não-cais, lamechas,
moles e enfezados.
Em parte até tinha razão, mas por um
motivo totalmente diverso.
Não há de mal em ser-se agnóstico nos
casos em que faltam provas de um lado ou de outro. É a posição sensata.
Carl Sagan manifestou orgulho em ser
agnóstico quando lhe perguntaram se existia vida em qualquer outra parte do
universo. Como se recusasse em dar uma resposta vinculativa, o seu interlocutor
insistiu em que revelasse o seu “sentir visceral”, ao que Sagan respondeu de
forma lapidar.
-
“Mas eu não tento pensar com as vísceras. A sério, não faz mal conter os nossos
juízos até haver provas.»
A questão da vida extraterrestre está em
aberto. É possível construir bons argumentos em ambos os sentidos, e faltam-nos
provas para ir além de fazer pender um pouco as probabilidades mais para este
ou para aquele lado.
Para um cientista estas são as palavras
nobres. De tão concentrado na impossibilidade absoluta de provar ou refutar
Deus, parece ter descurado a nuance da probabilidade.
O facto de não podermos provar ou
refutar determinada coisa não coloca a existência e a não existência em pé de igualdade.
A existência ou não existência de Deus é
um facto científico respeitante ao universo, que pode ser descoberto em teoria,
se não na prática.
Se existisse, e resolvesse revelá-lo, o
próprio Deus podia pôr fim à discussão de forma ruidosa e inequívoca, a seu
favor.
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