segunda-feira, julho 15, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 56


Reverenciavam o santo:


 - Ôkê! Ôkê!

E Omolu, que dançava entre as “feitas”, veio e reverenciou António Balduíno. Depois reverenciou pessoas da assistência que podiam entrar para a casa. Reverenciou o Gordo, reverenciou o estudante negro que era geralmente simpatizado, reverenciou o homem calvo, reverenciou Roque e vários outros.

Agora todos estavam excitados e queriam dançar. Omolu vinha e tirava mulheres da assistência para dançar. António Balduíno movia o tronco como estivesse remando. Estavam os braços saudando o santo.

Um ar de mistério se espalhava pela sala e vinha de toda a parte, dos santos, da música, dos cânticos e, principalmente de Jubiabá, centenário e pequenino.

Cantavam em coro outra canção da macumba:

 - Êôlô biri ô b’ajá gbá a pénhindá

E estavam dizendo que «o cachorro quando anda mostra o rabo». Também Oxossi, o deus da caça, veio para a festa da macumba de pai Jubiabá.

Vestia de branco, verde e um pouco de vermelho, um arco, distendido com a sua flecha, pendurado de um lado do cinto. Do outro lado conduzia um aljava. Trazia daquela vez, além do capacete de metal com casco de pano verde, um espanador de fios grossos. E não é sempre que Oxossi, o deus da caça, o grande caçador, traz o seu espanador de fios grossos.

Os pés descalços das mulheres batiam no chão de barro, dançando. Requebravam o corpo ritualmente, mas esse requebro era sensual e dengoso como corpo quente de negro, como música dengosa de negro.

O suor corria e todos estavam tomados pela música e pela dança. O Gordo tremia e não via mais nada senão figuras confusas de mulheres e santos, deuses caprichosos da floresta distante. O homem branco batia com os sapatos no chão e disse para o estudante:

 - Eu caio já na dança…

Jubiabá era reverenciado pelo santo. Braços em ângulos agudos saudavam Oxossi, o deus da caça. Havia quem apertasse os lábios e mãos que tremiam, corpos que tremiam no delírio da dança sagrada.

Foi quando, de súbito, Oxalá, que é o maior de todos os Orixás, e que se divide em dois – Oxodiian, que é o moço, Oxolufâ, que é o velho – apareceu derrubando Maria dos Reis, uma pretinha dos seus quinze anos, de corpo virgem e roliço.

Ele apareceu Oxolufâ, Oxalá velho, alquebrado, arribado a um bordão com lantejoulas. Quando saiu da camarinha vinha totalmente de branco e recebeu a saudação da assistência que se curvou ainda mais:

 - Ôkê! Ôkê!

Foi só então que a mãe do terreiro cantou:

 - É inunn ô ôjá l’a ò jô, inun a ô Iô.

Ela estava avisando:

 - O povo da feira que se prepare. Vamos invadi-la.

E a assistência em coro:

 - « Érô ójá é para môn, ê inun ójá  li a ô Iô.


 - « Povaréu, cuidado, entraremos na feira.

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