terça-feira, julho 23, 2013

Jubiabá

Episódio Nº 65


Lutador

A casa de Jubiabá era pequena mas bonita. Ficava num centro de terreno no Morro do Capa Negro, um grande terreiro na frente, um quintal se estendendo nos fundos.

A sala espaçosa ocupava a maior parte da casa. Uma mesa com um banco de cada lado, onde jantavam Jubiabá e as suas visitas, e uma cadeira espreguiçadeira, virada para a porta do quarto em que pai de santo dormia.

Nos bancos, em redor da mesa, negros e negras conversavam. Estavam também dois espanhóis e um árabe. Nas paredes retratos inúmeros emoldurados em conchas brancas e rosa, mostravam amigos e parentes do pai de santo.

No nicho, um orixalá negro confraternizava com um quadro do Senhor do Bonfim. O quadro representava o santo salvando um navio do naufrágio. Porém o ídolo era muito mais bonito, pois era uma negra de belo corpo, segurando com uma das mãos o seio pujante e bem feito, num gesto de oferecimento. E era Iansan, deusa das águas, que os brancos chamam santa Bárbara.

Jubiabá saíu do quarto, vestido num lindo camisu bordado nos peitos. O camisu se estendia até aos pés e ele não trazia outra roupa. Um negro se levantou da mesa e ajudou o pai de santo a se sentar.

Os negros vieram e beijaram a mão de Jubiabá. Também os espanhóis e o árabe. Um dos espanhóis estava com o queixo inchado, um pano amarrado por baixo.

Chegou para perto de pai de santo e disse:

 - Pai Jubiabá yo estou com um dente danado pra doer. Caramba! Não me deixa trabajar, nem hacer nada. Caramba! Já gastei um dinheirão com o dentista e nada… Não me resta nada a hacer!

Tirou o pano do queixo. Apareceu uma inchação enorme. Jubiabá medicou.

 - Bote chá de malva e reze assim:

«São Nicodemos, sarai esse dente!
Nicodemos, sarai esse dente!
Sarai esse dente!
esse dente!
dente!

Completou:

 - Vosmecê faz a oração na praia. Escreve na areia e vai apagando de cada vez uma palavra, não sabe? Depois vai pra casa e bota o chá. Mas sem a oração não presta…

O espanhol deixou cinco mil réis e foi aplicar o remédio.

Depois veio um negro que queria fazer um despacho. Falou em voz baixa, próximo do ouvido de Jubiabá. O pai de santo se levantou e ajudado pelo negro penetrou no quarto.

Voltaram minutos depois e no dia seguinte apareceu um feitiço forte, farinha misturada com azeite de dendê, quatro mil réis em pratas de dez tostões, dois vinténs de cobre, e um urubu novinho ainda vivo, na porta de Henrique Padeiro que pegou uma doença misteriosa e morreu dela tempos após. Uma negra também queria um feitiço, mas esta não falou em voz baixa nem entrou para o quarto.

Foi dizendo:

 - Aquela sem vergonha da Marta tomou meu homem. Eu quero que ele venha de novo para casa. – A negra estava revoltada.

 - Eu tenho filhos, ela não tem…


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