(continuação)
Richard Dawkins – “A Desilusão de Deus”
Francis Crick, pioneiro,
juntamente com Watson de toda a revolução molecular, renunciou ao lugar que
detinha no Churchill Collge, em Cambridge, devido à decisão da escola de
construir uma capela (por ordem de um benfeitor).
Na minha entrevista com
Watson, em Clare, confrontei-o com o facto de, ao contrário do que acontece com
ele e com Crick, algumas pessoas não verem qualquer conflito entre ciência e
religião, porque afirmam que a ciência pergunta como as coisas funcionam
enquanto a religião perguntam para que servem.
Ao que Watson retorqui u:
- “Bem eu não acho que sirvamos
para o que quer que seja. Somos apenas produtos da evolução”.
Soam a desesperados os
esforços dos apologistas no sentido de encontrar cientistas modernos
genuinamente notáveis que sejam religiosos, produzindo o som de quem raspa o
fundo do barril.
A única página da Internet
que consegui encontrar que dizia ter uma lista dos “cristãos cientistas vencedores
de prémio Nobel” menciona seis de um total de várias centenas de prémios Nobel
da Ciência. Destes seis, quatro nem sequer tinham ganho o prémio; e pelo menos
um, de que tenha conhecimento, é um não crente que vai à igreja por motivos
meramente sociais.
Um estudo da autoria de
Larson e Witham saído na conceituada revista Nature, em 1998, mostrava que, de
entre os cientistas americanos considerados pelos seus pares suficientemente
eminentes para serem eleitos para a National Academy of Science apenas sete por
cento acreditava num deus pessoal.
Este predomínio esmagador de
ateus é quase o oposto do perfil da população norte-americana em geral, da qual
mais de noventa por cento acredita num ser sobrenatural.
Exactamente como eu
esperava, os cientistas americanos mostram ser menos religiosos do que o
público americano em geral, e os cientistas mais destacados são os menos
religiosos de todos.
O que é extraordinário é o
contraste entre a religiosidade do público americano na sua generalidade e o
ateísmo da elite intelectual.
Dos muitos e interessantes
resultados de estudos feitos, consta a descoberta de que a religiosidade tem,
na verdade, uma correlação negativa com o nível de instrução (as pessoas com
formação superior são menos susceptíveis de serem religiosos).
A religiosidade tem
igualmente uma correlação negativa com o interesse pela ciência e, de maneira
muito forte, com inclinações políticas de tipo mais progressista.
Nada disto surpreende, tal
como não espanta o facto de haver uma correlação positiva entre a religiosidade
de um indivíduo e a dos pais.
Os sociólogos que estudam as
crianças britânicas apuraram que apenas uma em cada doze crianças se afasta das
crenças dos pais.
(continua)
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