Agora não sou mais malandro.... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 70
Fiz boxeadores que hoje
são campeões no mundo todo… Mas nenhum aguentava aquele soco. Bonito…
Quando saíram do botequi m, António Balduíno estava contratado por Luigi,
o treinador e o gordo iria com eles como ajudante.
Saíram todos um pouco
embriagados. No outro dia António Balduíno disse a dos Reis.
- Agora não sou mais malandro… Sou jogador de
boxe… Vou ser um campeão… Depois vou para o Rio, para a América do Norte…
- Você vai embora?
- Lhe levo, meu bem.
Era melhor que Oxalá, o
maior dos santos.
Os jornais anunciaram a
primeira luta meses depois. Agora ele era Baldo o negro. Luigi dava entrevistas
e um jornal até publicou o retrato de António Balduíno com o braço estendido
para dar um soco, a outra mão numa atitude de defesa. Maria dos Reis colocou o
retrato na parede do quarto.
O adversário chamava-se
Gentil, e dizia-se campeão de pesos pesados da armada. Na verdade era um
estivador do cais do porto.
No Largo da Sé estavam
todos os amadores das lutas de boxe e mais frequentadores da “Lanterna dos
Afogados”, inclusive seu António, os moradores do Morro do Capa Negro, os
amigos todos de António Balduíno.
Primeiro entrou no tablado
o juiz, um sargento do exército que estava à paisana. Falou:
- Vamos ver uma luta braba. Peço ao público
muito respeito e aplausos.
Chegou o Gordo trazendo o
balde e uma garrafa. Veio também um amarelo com as mesmas coisas e ficou do
outro lado. Aí apareceu António Balduíno acompanhado de Luigi.
O pessoal do morro, da
“Lanterna dos Afogados”, dos saveiros e das canoas gritou:
- António Balduíno! António Balduíno!
O juiz apresentou:
- Baldo, o negro.
Entrava o outro boxeador
que era aplaudido pela assistência:
- Gentil, campeão de todos os pesos da
gloriosa armada – gritou o juiz.
Palmas e gritos da
assistência. O pessoal do morro, dos saveiros e do botequi m,
olhava o mulato com olhos irónicos.
- Vai levar uma surra…
António Balduíno também
olhava o seu adversário e sorria. Luigi dava conselhos:
- Soque ele com força. Na boca e nos olhos.
Bem forte…
O gordo estava nervoso e
rezava para que o amigo vencesse. Mas se lembrou que a luta de boxe era pecado
e parou de rezar amedrontado.
Soou um sinal e os
lutadores avançaram um para o outro. Atrás, a multidão gritava.
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