sexta-feira, agosto 16, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 86


              - «Você está na lanterna do saveiro…

Passam junto da lanterna do «Paquete Voador». Guma sacode um embrulho de dinheiro dentro do “Viajante sem Porto”.

Quinze mil réis, Mestre Manuel mete os cinco no bolso da calça e grita:

 - Boa viagem, Guma. Boa viagem…

 - Boa viagem, a voz vem lá de trás

António Balduíno pega os dez mil réis que ganhou:

 - Compre um vestido para ela, Manuel. Foi ela que ganhou…

         - «A estrada do mar é larga, Maria…

António Balduíno pensa onde andará o homem branco e calvo que naquele apareceu na macumba de Jubiabá. Onde ele estará, onde estará o homem que António Balduíno julga ser Pedro Malazarte, o aventureiro?

É preciso que ele não esqueça essa viagem de saveiro, quando escrever o A B C do negro António Balduíno, valente e brigão, que ama a liberdade e o mar.


Mestre Manuel entregou o leme a António Balduíno agora que o rio é largo. Foi com a mulher para o fundo do saveiro. Estão escondidos atrás da camarinha. Mas se ouvem os ruídos dos corpos no amor. Vêm gemidos em voz baixa, súplicas e beijos.

Vem uma onda alta que cobre os amantes. Eles riem entre beijos. Nesse momento estarão molhados e o amor ainda será melhor.

António Balduíno imagina jogar o saveiro sobre as pedras do rio. Morreriam todos e os gritos e beijos se extinguiriam no mar.

O Gordo, que perdeu nessa noite uma estrela e um anjo fala.

 - Ele não devia ter feito isso…


CHEIRO DOCE DE FUMO


Cheiro doce de fumo! Cheiro doce de fumo! Invade as largas narinas do Gordo que entontece. O saveiro ficou no porto unicamente os dias das feiras das cidades vizinhas: Cachoeira e São Félix.

Depois partiu para outros portos pequenos, Maragogipe, Santo Amaro, Nazaré das Farinhas, Itaparica, levando seu Manuel e a mulher que cantava durante a noite e cheirava a mar. Abriu as velas e partiu na manhã saudosa. Valia como uma despedida.

António Balduíno e o Gordo ficaram na cidade velha de Cachoeira, medindo o comprimento das ruas numa vagabundagem forçada.

Sentiam a cidade pelo cheiro. Era aquele cheiro adocicado de fumo que vinha de São Félix defronte, das fábricas brancas que tomavam quarteirões inteiros e que eram gordas como os seus donos.

Cheiro que tonteava, que fazia pensar em coisas distantes, que obrigava o Gordo a contar longas histórias inventadas ou repetidas.

Nas fábricas de charutos não havia trabalho.

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