terça-feira, agosto 20, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 89


Passam as mulheres das fábricas de charutos. Vêm-se os grandes cartazes com os títulos. E num botequim um anúncio: - os melhores charutos do mundo… Para banquetes, jantares, almoços.

Passam as mulheres que fazem os charutos. Vão tão tristes que ninguém diria que vão para o lar, para o marido, para os filhinhos. O Gordo disse:

 - Parece acompanhamento de enterro…

A mulatinha bonita vai com o alemão. A mulher grávida chora no braço do marido.


No hotel de Cachoeira, que é cómodo e mesmo sumptuoso, moços alemães bebem whisky e jantam jantares especialmente feitos para eles.

Mulheres vieram da Baía para dormirem com esses moços loiros e simpáticos. São filhos dos donos daquelas fábricas de onde saíram as mulheres operárias.

Conversam em meio às bebidas e falam na salvação da Alemanha pelo hitlerismo, na próxima guerra mundial que eles vencerão. E quando a bebida tiver subido para as cabeças cantarão hinos guerreiros.

Uma criança interrompe o jantar e diz:

 - Uma esmola que a minha mãe está morrendo…

Mas a lua-cheia que saíu dos morros e está sobre o rio, não é vista pelos loiros alemães. Na beira do rio os maridos das operárias cantam ao violão e as mulheres apresentam crianças à lua:


                               «Bênção dindinha lua
                                 Tome bebezinho para você
                                 E me ajude a criar».


No fim da tarde chuvisquenta o canoeiro chegou para perto de António Balduíno e do Gordo:

 - Então, camarada… Não vai boiar…

 - Nós vai, sim…

 - Se quer ir boiar lá em casa… É comida de pobre… Só tem peixe, mas se come e é oferecido de boa vontade…

Virou-se para o Gordo:

 - Você conta uns casos pra minha velha ouvir. Ela deve tá chegando da fábrica… Tenho cinco meninas e dois meninos…

Sorri esperando a resposta. Entram por um beco que vai dar numa rua enlameada que lembra a António Balduíno o morro do Capa Negro.

Dentro da casa brilha a luz vermelha dos fifós. Crianças brincam nas portas fazendo bonecos e bois com o barro preto do massapê.

É aqui, diz o canoeiro.

As paredes são sujas de fumaça. Um quadro com o Senhor do Bonfim, um violão dependurado. Um garoto dorme estendido numa cama de tábuas. Terá três meses, quando muito.

Acordou com o beijo do homem e estendeu as mãozinhas, rindo com a boquinha negra. Um que mal está andando se agarra às saias da mãe. Já possui a barriga estufada como os outros que estão fazendo bonecos de barro lá fora.

Site Meter