Episódio Nº 89
Passam as mulheres das
fábricas de charutos. Vêm-se os grandes cartazes com os títulos. E num botequi m um anúncio: - os melhores charutos do mundo…
Para banquetes, jantares, almoços.
Passam as mulheres que
fazem os charutos. Vão tão tristes que ninguém diria que vão para o lar, para o
marido, para os filhinhos. O Gordo disse:
- Parece acompanhamento de enterro…
A mulatinha bonita vai com
o alemão. A mulher grávida chora no braço do marido.
No hotel de Cachoeira, que
é cómodo e mesmo sumptuoso, moços alemães bebem whisky e jantam jantares
especialmente feitos para eles.
Mulheres vieram da Baía
para dormirem com esses moços loiros e simpáticos. São filhos dos donos
daquelas fábricas de onde saíram as mulheres operárias.
Conversam em meio às
bebidas e falam na salvação da Alemanha pelo hitlerismo, na próxima guerra
mundial que eles vencerão. E quando a bebida tiver subido para as cabeças
cantarão hinos guerreiros.
Uma criança interrompe o
jantar e diz:
- Uma esmola que a minha mãe está morrendo…
Mas a lua-cheia que saíu
dos morros e está sobre o rio, não é vista pelos loiros alemães. Na beira do
rio os maridos das operárias cantam ao violão e as mulheres apresentam crianças
à lua:
«Bênção dindinha
lua
Tome bebezinho
para você
E me ajude a
criar».
No fim da tarde
chuvisquenta o canoeiro chegou para perto de António Balduíno e do Gordo:
- Então, camarada… Não vai boiar…
- Nós vai, sim…
- Se quer ir boiar lá em casa… É comida de
pobre… Só tem peixe, mas se come e é oferecido de boa vontade…
Virou-se para o Gordo:
- Você conta uns casos pra minha velha ouvir.
Ela deve tá chegando da fábrica… Tenho cinco meninas e dois meninos…
Sorri esperando a
resposta. Entram por um beco que vai dar numa rua enlameada que lembra a
António Balduíno o morro do Capa Negro.
Dentro da casa brilha a
luz vermelha dos fifós. Crianças brincam nas portas fazendo bonecos e bois com
o barro preto do massapê.
É aqui ,
diz o canoeiro.
As paredes são sujas de
fumaça. Um quadro com o Senhor do Bonfim, um violão dependurado. Um garoto
dorme estendido numa cama de tábuas. Terá três meses, quando muito.
Acordou com o beijo do
homem e estendeu as mãozinhas, rindo com a boqui nha
negra. Um que mal está andando se agarra às saias da mãe. Já possui a barriga
estufada como os outros que estão fazendo bonecos de barro lá fora.
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