Episódio Nº 97
As mulheres riem e todas o querem mas ele está com a
actriz que conheceu num teatro e que se dependura no braço dele de uma maneira
que roça os seios no seu peito.
Agora vão cear num restaurante chique, de mulheres
decotadas, onde bebem vinhos caros. Ele já beijou repetidas vezes a mulher que,
sem dúvida, o ama, pois consente que ele lhe machuque os seios e suspenda por
baixo da mesa o seu vestido de seda.
Mas agora ela está novamente no quadro, com o leque em
cima do sexo, porque o girau está balançando muito e António Balduíno de moveu
na sua cama de tábuas, no outro lado da sala.
Ricardo espera com raiva que tudo fique calmo de novo.
Puxa a coberta esburacada até ao queixo. Volta com a mulher do restaurante
para, logo depois, tomarem um carro e se deixarem ficar num quarto onde há cama
e perfumes.
Ele a despe devagarinho gozando os seus encantos um a
um. Pouco lhe importa agora que o girau ranja e que António Balduíno se mova. Não,
não é a sua mão calosa que ele tem em cima do sexo.
É o sexo alvo da actriz loira, que não está com
vestido nem com leque e que ama Ricardo, trabalhador das plantações de fumo. Acorde
quem qui ser que ele não está fazendo
nada de mais, está amando uma mulher bonita, de seios duros e ventre redondo. A
sua mão é uma mulher.
A actriz voltou ao quadro, o sexo tapado com o leque. Na
estrada brilha a luz de um fifó que ilumina as plantações de fumo. Ricardo
deita a cabeça sobre as tábuas do girau e dorme.
Num domingo Ricardo disse que ia pescar nas águas do
rio. Tinha comprado uma bomba e com ela esperava matar muito peixe.
Convidou os outros. Somente o Gordo se resolveu a ir. Conversaram
o caminho todo. Na margem do rio ele tirou a camisa. O Gordo se deitou na
relva.
As plantações de tabaco se estendiam lá atrás. Passava
um trem. Ricardo preparou a bomba e acendeu a mecha. Sorria. Estendeu as mãos
para a frente, mas antes que jogasse a bomba ela estourou levando-lhe as mãos e
os braços, encharcando o rio de sangue.
Ricardo olhou os cotos dos braços e era como se houvesse
se suicidado.
SENTINELA
Arminda, a filha de sinhá Laura, que ao terminar os
trabalhos corria pelos campos a sua meninice de doze anos, não corre mais e
trabalha com o rosto angustiado. Até uma vez pediu licença a Zéqui nha para ir a casa.
É que há uma semana, sinhá Laura está estendida em
cima de uma cama, inchando com uma doença desconhecida. Antes Arminda era
alegre e tomava banho no rio, nadando como um peixe, excitando os homens com o
seu corpo de menina. Agora apenas trabalha porque senão trabalhar morre de fome.
Na terça-feira nem no trabalho apareceu. Totonha que
veio da casa da doente, avisou:
- A velha
esticou as canelas…
Os homens pararam o trabalho por um minuto. Um disse:
- Já estava na
idade…
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