sexta-feira, agosto 30, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 98


- Está inchada que nem um boi… Faz até medo…

 - Que doença mais esquisita…

 - Ninguém me tira que aquilo foi espírito ruim…

quinha vinha chegando. Os homens se curvaram de novo sobre as folhas de fumo. Totonha falou com ele e depois avisou:

 - Eu vou ficar com a menina. De noite tem sentinela…

O negro Filomeno segredou para António Balduíno:

 - Quem me dera ser eu. Sozinho com ela, era um Deus nos acuda…

O Gordo bebeu um trago de cachaça porque tinha muito medo de defunto. E, na hora do almoço, ficaram relembrando histórias de defuntos conhecidos, contando casos de doenças e mortes.

O negro Filomeno não falava. Estava com um plano na cabeça. Pensava em Arminda, na frescura da sua carne moça.


Os fifós pareciam andar. A luz vacilante se aproximava da casa de taipa. Não se viam as pessoas. Sòmente aquela luz vermelha que bruxuleava e mudava de lugar como uma alma penada.

Na porta, Totonha recebia as visitas que vinham fazer a sentinela da morte. E distribuía abraços e recebia pêsames como se fosse parente da sinhá Laura.

Estava com os olhos húmidos e narrava os sofrimentos da defunta:

 - Coitada, gritava tanto… Também com aquela doença danada…

 - Aquilo era espírito…

- Deu de inchar, ficou com a barriga estufada…

 - Agora descansou…

Uma mulher se benzeu. O negro Filomeno perguntou:

 - E Arminda?

 - Tá lá dentro chorando… Coitadinha, ficou sem ninguém no mundo…

Ofereceu cachaça que todos tomaram.

No único cómodo da casa dois bancos se alinhavam ao lado de uma parede. Alguns homens e mulheres, de pés descalços e cabeças descobertas, velavam a morta. Do outro lado da sala uma cadeira velha onde Arminda sentada chorava um choro sem lágrimas, intercalado de soluços altos.

Tinha os olhos tapados com um lenço vermelho. Os recém chegados foram até onde ela estava e apertaram-lhe a mão sem que ela se movesse. Não diziam palavra.

E no meio da sala, estendido em cima de uma mesa, que era nos dias comuns cama e mesa de jantar, estava o cadáver, inchado, parecendo querer estourar.

Uma coberta de chitão, de grandes flores amarelas e verdes, cobria o corpo, deixando do lado de fora o rosto enrugado com a boca torcida e os pés enormes e achatados de dedos abertos.


Os homens ao voltar espiavam o rosto da morta e as mulheres se benziam.

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