sábado, agosto 24, 2013

JUBIABÁ
JUBIABÁ

Episódio Nº 93



MÃO

O campo de fumo se estendia pelo morro e parecia não ter fim. Primeiro era aquela planície que depois subia pelo morro e descambava lá atrás, campo verde, inacabável, de plantas baixas, de folhas largas.

O vento balançava as folhas e se não fosse a sacola protectora de pano espalharia as sementes do fumo numa plantação inútil.

As mulheres que estavam curvadas colhendo as folhas com gestos cansados, levantaram o corpo e se agitaram. Foram as últimas a largar o trabalho e uma delas era velha e enrugada, enquanto a outra, fumava um charuto de cinquenta réis, era uma mulherona moça e forte.

Os homens já iam adiante e pareciam todos corcundas. Conduziam montes de folhas de fumo que dependuravam na frente das casas, resguardando do sol muito forte e da chuva.

As folhas que já estavam secas cediam o lugar às folhas recém chegadas que faziam cortina em frente das casas dos trabalhadores.

Existiam quatro casas em bloco, formando um quadrado no centro do qual os homens se reuniam para conversar e tocar violão.

A mulher velha entrou numa das casas onde o companheiro acocorado prestava atenção ao feijão que cozinhava. A moça ficou tirando dois dedos de prosa com os homens que estavam no «terreiro», que era como eles chamavam o quadrado que ficava entre as casas.

O gordo estava com saudades da avó e falava:

 - Ficou sozinha com Deus sòmente…Quem dá comida a ela?

 - Deixa estar que ela não morre de fome, não…

 - Não tou falando nisso – o Gordo se atrapalhava – Eu estou dizendo…

A mulher botou as mãos nas cadeiras para ouvir mais comodamente:

 - Entonce o que é? – Não sabe? Ela está velha e acabada… Só come dando na boca…

A mulher riu, os homens fizeram pilhérias:

 - Isso parece mais uma mulata que você tem… Esse negócio de dar comida na boca… É bonita?

 - Juro que é minha avó… Juro… Ela não tem mais dente e já anda pancada…

Outros homens iam chegando. António Balduíno se estendeu no meio do terreiro, a barriga nua para cima:

 - Tou cansado, gente…

O Gordo perguntou:

 - Não é verdade que eu tenho uma avó? Ela não come dado por mim na boca.

Os homens riam. A moça atalhou:

 - Tua mulher é tão velha assim, Gordo, que você chama ela avó?

Vieram gargalhadas que aumentaram a confusão do Gordo:


 - Juro… Juro… - beijava os dedos em cruz.

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