Mas também perdi tudo... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 74
Naquela noite fria da sua
derrota, como não qui sesse ir beber
na “Lanterna dos Afogados”, foi para o “Bar Baía”.
Sentou numa mesa dos
fundos com o Gordo e bebia silenciosamente quando um homem veio para eles e
pediu que pagassem um trago. Balduíno olhou:
- Eu conheço este sujeito…
não sei de onde mas conheço…
O homem tinha os olhos
vidrados e passava a língua nos beiços:
- Um mata-bicho… paga camarada…
Foi quando António
Balduíno viu o talho que ele tinha no rosto:
- Aqui lo
é obra minha…
Ficou pensando, bateu a
mão na testa:
- Você não é Osório?
O Gordo acrescentou:
- Um que era soldado…
- É, já fui sargento…
Puxou uma cadeira e
sentou:
- Já fui sargento… - passava a língua nos
beiços. – Um mata-bicho…
Balduíno ria. O Gordo
tinha pena.
- Depois veio uma mulher, uma mulher, ouviu?
Bonita… Chi! Bonita… Só vendo… Era minha noiva, ouviu… Eu tava esperando ser
cabo…
Mas você não era sargento?
- É isso mesmo: nem me lembro, eu acho que
tava esperando ser capitão. O capitão tinha me prometido… O capitão…
Me dá outro mata-bicho?
Menino me traz outro mata-bicho que é o menino aqui
quem paga… marcámos o casório… Ia ser um festão… Ela era bonita… Bonita… Mas
foi com outro…
- E esse talho?
- Ah! Foi o tal… Mas eu deixei ele com as
tripas de fora… Ela era uma beleza… Beleza…
- Era sim…
- Você conheceu ela?
- Você não se lembra?
Beberam até ao fim da
noite e saíram abraçados, muito amigos, dando gargalhadas, esquecidos de Maria
dos Reis e de que tinham sido soldado e boxeur.
De repente o homem disse:
- Você era o tal…
E se afastou de António
Balduíno.
- Mas também perdi tudo…
Se abraçaram de novo e
foram cambaleando pela rua:
- Ela era uma lindeza…
António Balduíno confundia
a negra Maria dos Reis com a branca Lindinalva.
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