sábado, setembro 28, 2013


As Premonições de

Natália  Correia:
  
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  A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".


A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder.


Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas.
Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"


"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".


"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".



"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".


"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"



"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres.

 A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir".
Natália Correia

Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993.


NOTA - Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta. Por: Ze Bond

Susana Lourenço,

Este texto corresponde a uma realidade para a qual podemos estar a caminho e, se fizéssemos hoje uma consulta ao povo português sobre a entrada de Portugal na Comunidade Europeia, acredito que a maioria diria que não.

Se não tivéssemos entrado, o Portugal de hoje seria bastante diferente do que é. Muito menos rotundas, muito menos obras públicas, sem os quilómetros de auto-estradas que temos, em suma, um Portugal mais próximo do que era antes mas sem a enorme dívida que compromete o nosso futuro.

A ideia era boa e a decisão então tomada correspondia, fundamentalmente, a um objectivo de paz de uma Europa sacrificada pelas guerras, à qual os países foram aderindo mas a sua aplicação prática não foi correcta e completamente assumida.

Estão a confirmar-se previsões e suspeitas que ocorrem ao espírito sensível e intuitivo dos poetas e escritores, neste caso, à nossa grande e desassombrada Natália Correia.  

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