quarta-feira, setembro 04, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 102


FUGA


No cinto, por debaixo do paletó, António Balduíno traz dois punhais.

quinha correu para cima dele com a foice na mão. Se atracaram e rolaram no barro duro da estrada. Zéquinha caiu e a foice voou longe.

Quando ele se levantou e correu de novo para António Balduíno viu o punhal na mão do negro. Parou irresoluto. Ficou calculando o golpe. Depois deu um pulo. António Balduíno deu um passo atrás, a sua mão se abriu e o punhal caiu.

quinha riu com os olhos e rápido como um gato se abaixou para apanhar a arma do inimigo. E enquanto ele se abaixa, António Balduíno traz sempre dois punhais no cinto… E a sua gargalhada assusta os homens mais que a luta, que a punhalada e o sangue.

Era de noite e o negro ganhou o mato.


Abre caminho pelo mato. Corre entre as árvores que se fecham. Há bem três horas que ele corre assim como um cão perseguido pelos garotos malvados. No silêncio do mato os grilos se fazem ouvir.

Corre sem rumo, corre perdido, varando o mato, com os pés doídos, evitando as estradas, se rasgando nos espinhos. A sua calça de mescla está lanhada de cima abaixo. Ele nem viu quando ela se rasgou.

E o mato sem fim se estende na sua frente. Não vê nada na escuridão. Agora pára. Ouve ruídos de matos quebrados. Quem vem lá? Já o perseguirão?

Fica atento, a mão na navalha, única arma que lhe resta. Está atrás de uma árvore e é difícil que seja visto. Sorri pensando que o perseguidor que passar primeiro dormirá para sempre.

A navalha está aberta em sua mão. E rápido como uma visão passa na frente um habitante daqueles matos. Que bicho teria sido. António Balduíno não o reconheceu sequer e ri do medo que teve.

Continua a caminhada, abrindo caminho com as mãos. Cai sangue do seu rosto. O mato é implacável para os que o violam. Um espinho rompeu o rosto de António Balduíno.

Mas ele não vê nada, não sente nada. Sabe apenas que deixou um homem caído nas plantações de fumo. E nas costas deste homem estava um punhal que era seu, que fora manejado pela sua mão.

António Balduíno não tem remorsos do que fez. Zéquinha foi o único culpado. Foi ele quem fez tudo para aquela briga. Ele o perseguiu muito. Aquilo tinha que acontecer… E se ele não viesse com a foice na mão, António Balduíno não puxaria o punhal.

O mato é ralo mais adiante. Através das folhas o negro vê as folhas que brilham. O céu está claro. Farrapos de nuvens brancas correm. Se estivesse ali uma mulata, António Balduíno diria que os dentes dela se pareciam com as nuvens brancas do céu.


Ele pára e admira o céu da noite estrelada. Senta. Está numa clareira e não se recorda mais da briga. Se dos Reis estivesse ali… Mas dos Reis foi com uma família para São Luís do Maranhão.

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