quinta-feira, setembro 12, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 109

Eles não vão. A velha Laura, mãe de Arminda, chegou neste momento. Veio com os olhos inchados, o corpo inchado, a língua de fora. Ficou rindo dele…

- Vá para o inferno! Vá para o inferno!

Levanta. Vão todos atrás dele. Até o Gordo que era tão seu amigo. Jubiabá diz que ele vazou o olho da piedade. É verdade, sim, é verdade. Mas que o deixem em paz que já vai morrer e quer morrer como um homem e assim não pode, e assim não pode…

Rezam orações de defuntos… Ele tropeça numa raiz e cai.


Deixou-se ficar estendido. E quando se levanta traz uma resolução no olhar.

A estrada está à sua direita. Marcha para lá a pés firmes. Vai erecto como se não tivesse fome, como se há dois dias não estivesse sem ver vivos, vendo fantasmas somente e leva a navalha na mão.

Desaparece na escuridão. Ouvem-se tiros ao acaso.


VAGÃO


 - Já tava criando bicho…

O velho tratava do rosto de António Balduíno, que inchara com o talho e aparecia disforme e vermelho como uma maçã. Botou em cima da ferida ervas misturadas com terra. Jubiabá faria o mesmo.

- Obrigado, meu velho… Você é bom…

 - Vai fechar num instante. Essa folha é santa, faz milagre…

O negro chegara ali extenuado pela sua corrida pela mata que margeava a estrada, fugindo das plantações de fumo. O velho morava num casebre imundo, perdido no mato, com uns pés de mandioca na frente.

 Deu-lhe comida, deu-lhe cama, tratou da ferida e depois explicou e depois explicou que Zéquinha não morrera por um triz, mas que o patrão queria pegar Balduíno para dar uma surra que ficasse para exemplo.

António Balduíno riu:

 - Comigo fia fino, meu tio… Eu tenho o corpo fechado…

Bebeu um caneco de água:

 - Agora vou me botar no mundo… Se um dia puder lhe pago, meu velho…

 - Se botar no mundo pra quê? Assim o talho não seca, homem de Deus… Pode se arriar… Fique acoitado aqui… Ninguém desconfia, eu sou um homem pacato…

António Balduíno ficou três dias esperando o talho fechar. Comia da carne do velho, bebia a sua água, dormia no seu girau.

Despede-se do velho:

 - Você é bom…

Toma o leito da estrada de ferro. Quando chegar a Feira de Sant’Ana arranjará um caminhão que o levará para a Baía. E vai feliz por causa da aventura que teve, da luta que sustentou, do cerco que furou.

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