terça-feira, setembro 10, 2013

"A Origem do Mundo" museu D'orsay em Paris . Gustav Coubet
Mentes Pornográficas



A fotografia que acompanha este texto, um nu feminino, é a reprodução de um Quadro de Gustav Courbet que está exposto no Museu D’Orsay, em Paris, com o título a “Origem do Mundo” e foi colocado como capa num livro posto à venda na cidade de Braga, há uns anos atrás.


Gustav Courbet (1819-1877) foi um pintor anarquista francês pertencente à escola realista. Pintou principalmente paisagens campestres e marítimas preocupando-se em colocar nas suas pinturas a realidade fruto de uma observação directa.

Como resultado de “queixas de pornografia” apresentadas por vários cidadãos, a PSP mandou apreender os livros e o que apetece dizer é que estas “queixas de pornografia”, por uma razão destas, só pode ter origem em mentes, elas sim, pornográficas.

Mas é evidente, que a estranheza não tem a ver com estas mentes, cada vez em menor número mas sempre existirão, o que admira, espanta e quase não se acredita, é que a PSP tenha agido em função dessas queixas.

Se o autor da ordem de apreensão dos livros tinha alguma dúvida sobre o que é pornografia bastava consultar um dicionário de português, que deveria existir em todas as Esquadras da Polícia ou no gabinete de qualquer juiz, procurar a palavra “pornografia” e ficaria a saber que esta é: “Arte ou literatura que tem por assunto actos obscenos, devassidão”.

Obviamente, a fotografia da pintura de uma mulher nua, não é, nem pode ser, um acto obsceno e não tem nada a ver com devassidão. Teria sido, portanto, muito fácil à PSP não dar seguimento à queixa apresentada por alguns cidadãos possuidores de mentes pornográficas, simplesmente com base no Dicionário de Português da Porto Editora.


Mas é evidente que esta questão é muito mais profunda e no essencial está longe de ter alguma coisa a ver com o desconhecimento do significado da língua portuguesa.


O que doeu nesta notícia foi verificar que as Autoridades neste país: PSP, Juízes, etc., continuam a reverenciar e a obedecer, sem hesitações, à mentalidade beata de uma Igreja atrasada que dita as suas leis na nossa herança cultural/religiosa.

Mas por quê este horror ao “nu”, ao “feminino” e ao sexo, por parte da Igreja?

- Porque a Igreja abomina o prazer, a felicidade natural transmitida pelo sexo, mesmo sabendo que ela constitui um mecanismo da natureza para assegurar a propagação da vida.

Prazer é pecado e o homem está condenado ao sofrimento porque é muito menos que o seu Deus feito homem que morreu por nós sofrendo numa cruz.

A Igreja precisa de homens que aprendam a ser felizes mas no seu seio, em oração, na sua dependência, na disciplina da sua hierarquia, de joelhos e não na liberdade do seu pensamento e de acordo com a sua natureza biológica.

Este é o âmago da questão: sem pecado, medo, sofrimento, oração, arrependimento, penitência e recompensas ou castigos no outro mundo… não há religiões e o que seria deste mundo sem “pastores” e “rebanhos”...!?

Quem se lembra da história da Tieta do Agreste, de Jorge Amado, não se compadecerá do filho mais velho da irmã, Perpétua, o Ricardo, que com 17 anos anda no seminário a estudar para padre por vontade da mãe que já nasceu com vocação para beata?

Um jovem, cheio de saúde, na força da idade que reza Padres-Nossos enquanto espalha creme nas costas da tia como única forma de não pecar por maus pensamentos!

Perdoem-me o aproveitamento, mas isto não tem algo de “diabólico”?

Aquilo que a Igreja Católica faz aos jovens que entram para os Seminários em tenras idades é castrá-los mentalmente o que é pior que a castração física por não interromper os seus fluxos de hormonais.

Mulher nua na capa de um livro exposto na montra de uma livraria na cidade dos Arcebispos não foi um atentado ao pudor, à moral da Igreja, mas sim, um desafio ao seu poder e por isso, o outro “poder”, aquele que lhe é servil, corre pressuroso a retirar os livros das montras e a mandar cortar as imagens de mulheres nuas no computador Magalhães pelas festas do Carnaval de Alcobaça, também a pedido de “mentes pornográficas” daquela cidade e sempre em obediência ao poder da Igreja mesmo que, aparentemente, ele pareça já não existir.

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