Por que as pessoas fazem o bem? A bondade está
programada no nosso cérebro ou se desenvolve com a experiência? O psicólogo
Dacher Keltner, Director do Laboratório de Interacções Sociais da Universidade
da Califórnia, em Berkeley, investiga essas questões por vários ângulos e
apresenta resultados surpreendentes.
Em seu novo livro
Born to be good: the science of a meaningful life (W.W.Norton, 2009, ainda sem
tradução em português), Keltner compila descobertas científicas que revelam o
poder da emoção humana inata e criam conexões entre as pessoas, segundo ele um
caminho eficaz para uma boa vida. Em entrevista, o pesqui sador
discute altruísmo, neuro-biologia e aplicações práticas de suas descobertas.
Mente&Cérebro – Para o senhor, que quer dizer a expressão “nascido para ser bom”?
Mente&Cérebro – Para o senhor, que quer dizer a expressão “nascido para ser bom”?
Dacher Keltner – Significa que a evolução criou uma espécie, os humanos,
com inclinação para bondade, brincadeira, generosidade, reverência e auto-sacrifício
– vitais para a evolução, vale dizer, sobrevivência, replicação genética e
habilidade de convívio em grupo –, que se manifestam por meio de emoções como
compaixão, gratidão, medo, vergonha e felicidade.
Estudos recentes revelam que as capacidades humanas de
cuidar, brincar e respeitar foram desenvolvidas pelo cérebro e pela prática
social.
M&C – Uma das estruturas corporais que parece ter sido adaptada para gerar altruísmo é o nervo vago, como sua equi pe em
Berkeley descobriu. Fale um pouco sobre essa pesqui sa
e suas implicações.
M&C – Uma das estruturas corporais que parece ter sido adaptada para gerar altruísmo é o nervo vago, como sua e
Keltner – O nervo vago é um feixe neural que se origina no topo da
espinha dorsal. Ele estimula diferentes órgãos (como coração, pulmão, fígado e
aparelho digestivo). Quando activo, produz uma sensação de expansão confortável
no tórax, como quando estamos emocionados com a bondade de alguém ou ouvimos
uma bela música. O neuro-cientista Stephen W. Porges, da Universidade de
Illinois em Chicago, há tempos argumenta que essa região cerebral é o “nervo da
compaixão”.
Acredita-se que esse nervo estimule alguns músculos na
cavidade vocal, permitindo a comunicação. Estudos recentes apontam que ele pode
estar conectado à rede de receptores para a oxitocina, neurotransmissor
relativo à confiança e aos laços maternais. Nossas pesqui sas
e as de outros cientistas indicam que a activação dessa região está associada
aos sentimentos de cuidado e intuição que humanos de diferentes grupos sociais
têm.
Pessoas com alta activação dessa região cerebral são
mais propensas a desenvolver compaixão, gratidão, amor e felicidade. A
psicóloga Nancy Eisenberg, da Universidade Estadual do Arizona, descobriu que
crianças com actividade alta do nervo vago têm mais chances de cooperar e doar.
Segundo pesqui sas recentes, ele
estimula tal comportamento.
M&C – Frequentemente, quando lemos trabalhos académicos sobre emoções, moralidade e áreas relacionadas, perguntamos: existe alguma coisa que possamos fazer para usar isso na prática? Ao olhar para o futuro, que repercussão o senhor gostaria que seu trabalho tivesse?
M&C – Frequentemente, quando lemos trabalhos académicos sobre emoções, moralidade e áreas relacionadas, perguntamos: existe alguma coisa que possamos fazer para usar isso na prática? Ao olhar para o futuro, que repercussão o senhor gostaria que seu trabalho tivesse?
Keltner – Em resumo, após tratar da nova ciência das emoções no
meu livro, percebi o quanto isso é útil. Segundo alguns estudos, cooperação e
senso moral são traços evolucionários, e essas habilidades são encontradas nas
emoções sobre as quais escrevo. Uma ciência da felicidade está revelando que
esses sentimentos podem ser cultivados, o que traz o lado bom dos outros – e o
nosso – à tona.
M&C – O que esse tipo de ciência o faz pensar?
M&C – O que esse tipo de ciência o faz pensar?
Keltner - Ela me traz esperanças para o futuro. Que nossa cultura
se torne menos materialista e privilegie satisfações sociais como diversão,
toque, felicidade, que do ponto de vista evolucionário são as fontes mais
antigas de prazer. Vejo essa nova ciência em quase todas as áreas da vida. Os
médicos, por exemplo, hoje recebem treino para desenvolver empatia para com
seus pacientes, ouvi-los, tocá-los com carinho; são atitudes que ajudam no
tratamento. Os professores interagem com mais proximidade com seus alunos.
Ensina-se meditação em prisões e em centros de detenção de menores. Executivos
aprendem que inteligência emocional e bom relacionamento podem fazer uma
empresa prosperar mais do que se ela for focada apenas em lucros.
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