sábado, setembro 07, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 105

Os pés estão doridos da caminhada. Ele poderia ter dado uma surra única no Zéquinha. Pois ele não era o Baldo, o boxeur? Não derrubara tantos outros no Largo da Sé, na Baía?...

Sim, ele poderia ter derrubado Zéquinha a socos. Mas ele viera com uma foice. Homem não briga de foice e traição se paga com traição… Por isso puxara o punhal e o deixara cair para cravar o outro nas costas de Zéquinha.

E quem ganhara com tudo isso fora Filomeno, que agora deveria estar na sentinela olhando para Arminda… Ele mataria Filomeno se pudesse ir até casa de Zéquinha.

O cadáver estaria estendido no girau com a ferida nas costas. Filomeno pôs, com certeza seu punhal no cinto e depois porá Arminda na sua casa. Ele devia ter matado era Filomeno.

Agora estava encurralado na capoeira, cercado de todos os lados. Se não fosse a sede que sentia tudo iria bem… Mas a sua garganta está seca. Não lhe importam os pés doídos, o rosto que sangra rasgado pelos espinhos, a roupa retalhada.

Só lhe importa a garganta que arde de sede. Gostaria de comer também. Naquele mato não tem frutas. Não é época de goiabas, as goiabeiras não têm um só fruto.

Uma cobra passa silvando. Os grilos fazem um ruído insuportável. Agora ele não vê mais as estrelas que o mato é cerrado. E a sede aumenta. Fuma. Felizmente os cigarros e os fósforos estavam no bolso da calça.

Que horas serão? Meia-noite talvez, talvez mais tarde. O cigarro faz esquecer a sede e a fome. Desde quando ele fuma? Nem se recorda mais. Ainda no morro do Capa negro ele já fumava. Apanhou por causa disto.

Se sua tia Luísa o visse agora, o que diria? Ela dava-lhe surras mas gostava dele. Enlouqueceu, coitada, de tanto carregar mingau e mungunzá para vender no Terreiro. Na frente da sua casa, no morro, homens se reuniam para conversar.

Um dia veio aquele homem de Ilhéus que contou histórias de jagunços corajosos. E hoje, António Balduíno, estava encurralado como se fosse também um jagunço célebre. Se o homem de ilhéus o visse, com certeza o admiraria também e juntaria a sua história àquelas que contava pelas noites adentro.

Ele também quisera ter um A B C. Pensara que aquele homem calvo, que aparecera na macumba de Jubiabá, escreveria um dia o seu a B C.

O Gordo disse que a vida do homem calvo era escrever os A B C dos homens mais corajosos que conhecia e para isso vivia correndo o mundo montado num cavalo alazão. António Balduíno já merecerá um A B C? Ele não o sabe.

Talvez que o homem de Ilhéus conte um dia a sua história a homens e meninos de outro morro que o admirarão e pensarão em ser como ele.

Ah! mas se ele sair desta capoeira, onde está cercado por homens armados de repetição, merecerá ser cantado num a B C. Quantos serão os perseguidores? Se vieram todos da fazenda fazem mais de trinta.

Mas não vieram todos com certeza. O negro Filomeno não veio, ficou lá com Arminda, dizendo mentiras, prometendo coisas. Ele conhece aquele negro… Negro que quase não fala é ruim… Aperta a navalha. Com aquela arma sómente, ele atacaria Filomeno se o visse agora.


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