sábado, setembro 14, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 111


As vozes podiam ser ouvidas lá fora e o chefe do trem havia de encrencar com aqueles viajantes clandestinos. O velho abriu o olho e disse a António Balduíno quando ele falou:

 - Cala o bico, negro, se quiser viajar… Senão jogam a gente aí na estrada…

E mostrou com os olhos a mulher grávida. António Balduíno ficou pensando se ele seria marido ou pai dela. A idade era de pai, mas bem que podia ser marido. Calcule aquela mulher com a barriga grande andando a pé para a Feira de Sant’Ana.

Paria antes de chegar lá… E o negro riu baixinho. O rapaz com calças de soldado olhava para ele. E torcia o bigode. Parecia não estar muito satisfeito com o aparecimento de António Balduíno.

Foi quando ouviram vozes que se aproximavam. Era o chefe do trem que explicava aos passageiros da primeira classe o atraso.

 - Um desarranjo tolo… Agora vamos embora…

 - Mas perdemos quase uma hora…

 - Isso acontece em qualquer estrada…

 - Esta é uma esculhambação…

Logo depois um apito fino, prolongado e doloroso anunciou a partida. Mesmo escondido no vagão de portas fechadas António Balduíno deu adeus.

 - Deixa saudades? – perguntou o velho.

 - Só se for de cobras – riu o negro.

Mas baixou a cabeça e falou sem olhar ninguém:

- Uma menina… uma menina mesmo…

- Bonita? – fez o rapaz torcendo o bigode.

 - Cutuba, menino… Parecia até da cidade…

 - E você deixou ela?

 - Ela era doutro… E ele não morreu…

 - Eu sei de um homem que roubou uma mulher – contou o velho.

 - Eu sei de outro que deu uma facada noutro por causa de uma bruaca… Depois passou dois dias com fome escondido no mato… - António Balduíno contava a sua própria história.

 - Com medo?

 - Cala a boca, menino… Tu não sabe de nada… Ele estava era cercado de todo o jeito… Se quer ver se ele é homem ou não te atira em cima de mim…

 - Entonce… foi você?... – e o rapaz olhou com mais respeito.

A mulher guardava silêncio. Mas, quando ela gemeu, o velho disse:

 - Bem que o homem disse que era uma esculhambação… Se na classe é assim, pobre de nós que viaja de favor, escondido…  

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