Episódio Nº 118
(De Jorge Amado)
Porém jantaria na Baía, ou
com o Gordo ou com o Joaqui m ou
mesmo com Jubiabá. Ia pensando nestas coisas e no meio de arranjar um cigarro
quando ouviu um grito:
- Per la Madona! É Baldo.
Voltou-se. Na sua frente
estava Luigi com uma roupa muito sovada e os seus raros cabelos.:
- Luigi…
Luigi pegou nos seus
ombros, virou-o em torno de si e disse alegre:
- Magnífico…
- O que é que você está fazendo aqui , Luigi?
- Ventos maus, menino… ventos maus…
- Que diabo é que tem o vento com isso?
- Depois que você desistiu da carreira, Baldo,
nunca mais as coisas correram bem para mim…
Olhava o negro com
tristeza:
- Uma carreira tão bonita que você estava
fazendo… Uma pena…Largou de repente sem dizer para onde ia…
- Fiquei danado com aquela surra…
- Besteira… Besteira… Qual é o lutador que não
apanha uma vez?... Demais você estava bêbedo como um porco…
- Mas que diabo tá vendo aqui , Luigi? Tem algum lutador novo?
- Lutador? Nunca mais aparece um como você…
António Balduíno riu
satisfeito e deu um murro no peito de Luigi.
- Nunca mais… Agora estou com um circo…
- Circo?
- Um negócio desgraçado… Nem lhe conto…
Entraram num botequi m, Luigi pediu café. António Balduíno disse:
- Pede uns cigarros pra mim… Tou a nenhum,
Luigi…
Sabia que com Luigi podia
conversar francamente. Lembrou-se de qualquer coisa e disse:
- Você foi o único que não me apareceu quando
eu estava cercado na mata, quase morto…
- Mas se eu não sabia menino… Como foi?...
- Nada eu tava era com fome e quase morto. Vi
todo o mundo, sabe Luigi?... Vi todo o mundo que vinha me aporrinhar cantando
coisa de defunto… Só você não veio…
Luigi ainda não tinha
compreendido direito. António Balduíno narrou a briga com Zéqui nha, a fuga pela mata, as visões. Falou
sobriamente, sem detalhes, porque estava doido para saber do negócio do circo:
- Que negócio é este?
Luigi baixou a cabeça tristemente:
- Um negócio de desgraça… Quando você foi
embora eu fiquei sem ter que fazer…
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