sexta-feira, outubro 11, 2013

Ainda o Papa Bento XVI

O Papa Bento XVI resignou,  coisa nunca vista de há 600 anos a esta parte e está agora retirado, em reclusão, tendo alegado não ter condições de saúde para continuar.Ao peso dos anos e da doença somou-se o peso dos "pecados" da Igreja da qual foi o responsável máximo mesmo antes de ser Papa, na qualidade de perfeito da Congregação da Doutrina da Fé.
Em Maio de 2007, na Conferência de Bispos Latino - Americanos e do Caribe, em Aparecida, no Brasil em Maio de 2007, referindo-se ao processo de cristianização da América não teve uma palavra crítica relativamente a esse sangrento processo histórico.

Eis algumas das passagens desse discurso que expressava a visão oficial e insensível da Igreja Católica e que mais polémica e rejeição provocaram:

-“Que significou a aceitação da fé cristã para os povos da América Latina e do Caribe? Para eles significou conhecer e acolher Cristo, o Deus desconhecido que os seus antepassados, sem o saberem, buscavam nas suas ricas tradições religiosas. Cristo era o Salvador que ansiavam silenciosamente. O Espírito Santo veio fecundar as suas culturas, purificando-as e desenvolvendo os numerosos germens e sementes que o Verbo encarnado havia posto nelas, orientando-as assim pelos caminhos dos Evangelhos. O anúncio de Jesus e do seu Evangelho não supôs, em nenhum momento, a alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura estranha…”


Nem uma palavra para com Um dos Genocídios mais Horrorosos da História.

Como reacção de repúdio a este discurso, dois dias depois, a Confederação dos Povos de Nacionalidade Kichwa do Equador, fez passar este texto.

Eis uma passagem desse texto:

- “Se analisarmos com uma elementar sensibilidade humana, sem fanatismos de nenhuma espécie, a história da invasão a Abya Yala (nome dado ao Continente Americano) realizado pelos espanhóis com a cumplicidade da igreja católica, só nos podemos indignar.

Seguramente que o Papa desconhece que os representantes da igreja católica desse tempo, com honrosas excepções, foram cúmplices, encobridores e beneficiários de um dos genocídios mais horrorosos que a humanidade podia presenciar.

Mais de 70 milhões de mortos em campos de concentração de minas (a actividade de mineração foi a mais importante da América Espanhola). Nações e povos inteiros foram arrasados e para substituir os mortos trouxeram povos do continente africano que sofreram a mesma desgraçada sorte.

Usurparam as riquezas dos nossos territórios para salvar economicamente o sistema feudal. As mulheres foram cobardemente violadas e milhares de crianças morreram por desnutrição e doenças desconhecidas. Tudo isto foi feito debaixo do pressuposto filosófico e teológico que os nossos antepassados “não tinham alma”.

Junto dos assassinos dos nossos heróicos dirigentes estava sempre um sacerdote ou um bispo para doutrinar o condenado ou condenada à morte, baptizando-os antes de morrer, renunciando, assim, às suas concepções filosóficas e teológicas…

Não é concebível que em pleno Séc. XXI se acredite na Europa que só pode ser concebido como Deus um ser definido com tal na Europa. O Papa devia saber que antes de chegarem aos nossos territórios os sacerdotes católicos com a Bíblia, nos nossos povos já existia deus e a sua Palavra é aquela que sempre sustentou a vida dos nossos povos e a da Mãe Terra. A palavra de Deus não pode estar contida num só livro e muito menos se pode acreditar que uma religião possa privatizar um Deus.

Os nossos povos originários eram civilizações que tinham governos e organizações sociais estruturadas de acordo com os nossos princípios. Naturalmente, também tínhamos religiões com livros sagrados, ritos, sacerdotes e sacerdotisas que foram os primeiros a serem assassinados pelos que se afirmavam ser servidores do Deus do Amor de que falava Jesus Cristo mas não passaram de servidores do “deus da codícia”.

É importante comunicar ao Papa que as nossas religiões jamais morreram. Aprendemos a sincretizar nossas crenças e símbolos com as dos invasores e opressores. Continuamos assistindo nos nossos templos porque sabemos que debaixo dos principais templos católicos estão os cimentos dos nossos templos sagrados que foram destruídos no pressuposto de que as novas construções sepultariam as nossas crenças.


Mas não é assim, já que os nossos templos foram edificados em lugares onde se concentram grandes Forças que reflectem a Força, Sabedoria e Amor do Grande Espírito Pai e Mãe de todos os seres que habitam neste maravilhoso planeta”.Que dizer mais?

Notável este texto pela sabedoria e humildade inteligente em resposta à sobranceria das palavras do pontífice.

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