segunda-feira, outubro 07, 2013

Baldo - António Balduíno
JUBIABÁ

Episódio Nº 130

E foi assim, dizendo este tipo de coisas que o palhaço fez toda aquela gente feliz na noite da estreia do circo. Os empregados no comércio riam, o juiz ria, os negros da geral gargalhavam.

Só o homem viajado achava aquilo tudo uma porcaria e os dez tostões jogados fora. Mas ele tinha perdido a pureza. Há anos, nas grandes cidades onde fora estudante, antes do pai morrer e ele ter que pegar no metro na casa de seu Abdula.

O macaco dançou. O urso bebeu uma garrafa de cerveja. O homem cobra era assexuado e se torcia todo. Dava nervoso. Botava a cabeça nos pés, virava o corpo para o lado, metia os pés na boca, ficava deitado em cima de uma caixa pequena só com o ventre que era de mulher, as pernas nas costas, a cabeça também.

Trabalhava bem mas irritava os homens porque não tinha sexo definido e eles ficavam angustiados sem saber se o haviam de amar, pensar nele como em uma mulher, ou se deviam aplaudi-lo como se aplaude um homem macho.

Só nos olhos do homem viajado brilhava uma luz estranha e criminosa. O homem cobra agradeceu com o seu rosto de anjo, jogou beijos como Robert, o grande equilibrista, curvou-se como Fifi, a trapezista célebre.

As mulheres recolheram os beijos, os homens os cumprimentos. Só o homem viajado deixou o seu lugar porque o espectáculo estava acabado para ele. Levou a sua miséria no coração e nos olhos e não dormiu.

O grande equilibrista Robert não estreia esta noite. As mulheres se entristeceram. Em compensação ali está Rosenda Rosedá., a incomparável.


A INCOMPARÁVEL, ROSENDA ROSEDÁ

Se nos apresenta orgulhosa

EM FORMIDÁVEL TORMENTA EMOCIONAL

ATINGINDO O ÁUREO PORTO DA SUA CARREIRA NO

TABLADO

A tormenta emocional é um maxixe emocionante. Será que por debaixo da saia da baiana ela não tem roupa nenhuma?

Parece que não porque mostra as coxas até ao meio e não se vê pano algum. Em cima dos peitos traz colares de contas multicores.

Faz grandes XX com as pernas. A mulher do juiz acha que decididamente é uma imoralidade e que a polícia não devia permitir.

O juiz não concorda, cita a constituição e o código, diz que a mulher não é civilizada e não quer conversa, quer é espiar as coxas de Rosenda Rosedá, a incomparável.

Mas agora todos têm coisa melhor para olhar. Ela rebola as ancas. Desapareceu toda, só tem ancas. As suas nádegas enchem o circo, do teto até à arena. Rosenda Rosedá dança.

Dança mística de macumba, sensual como dança religiosa, feroz como dança da floresta virgem. Ela está mostrando o corpo todo mas o seu corpo é um segredo para os homens, porque, mal aparece, a saia o cobre, o esconde.


Eles estão irritados e fixam a vista, mas é inútil. A dança é rápida demais, é religiosa demais e eles são dominados pela dança.

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