terça-feira, outubro 01, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 125

Mas era mentira, não era? Gente do circo é ruim… Você não se fie em gente do circo. É gente invejosa… Ela lá podia ter um amante… Eles tinham era inveja do sucesso que ela fazia.

O que me dá raiva e me faz beber é pensar que ela podia ter mesmo um amante. Tinha as cartas. Mas ela era tão boa. Gostar daquela vida não gostava, não. Mas não era mulher para ter amante.

Mas tinha as cartas. Falava em encontros… Eu só queria ela viva para me dizer que era mentira, que era tudo inveja. Você não acha que era?

Será que ele vai chorar? Apertou a cabeça nas mãos e cerrou os olhos. Agora é António Balduíno quem vira a garrafa de cachaça e bebe um trago enorme. Lá fora está uma noite de Primavera também.


 - E o palhaço é o que é?

 - É ladrão de mulher…

 - Olha a negra na janela…

 - Com a cara de panela…

O palhaço Bolão vai montado de costas num jumento. No fundo da cidade o circo a domina. Cheio de bandeiras, com dois anúncios na porta.

De noite a música tocará ali e negras venderão cocada. A cidade só fala no circo, nas artistas, na negra que dança quase nua e principalmente no negro Baldo que desafia os homens da feira de Sant’Ana.

Os homens na grande feira comentam. Luigi esperou a segunda-feira para estrear. É que neste dia há feira de gado e vêm homens de toda a redondeza vender os seus bois.

O palhaço está atravessando o Largo da Feira:

 - Hoje tem espectáculo?

 - Tem sim senhor…

Os meninos que vieram da fazenda trazer rapadura e requeijão para vender, olham com inveja os moleques da cidade que acompanham o palhaço e entrarão de borla no circo. Um camponês diz a outro:

 - Chi. Eu gosto de circo que me acabo…

 - Já vi um, menino, um chamado Europeu que era batuta…

 - Diz que esse é bom…

 - Que é grande é… Se o palhaço for de verdade…

 - Eu vou dormi aqui só para ir…

 - Diz que não tem mais lugar. Tá tudo vendido.

Moleques combinavam entrar por debaixo do pano. O palhaço continuava a sua passeata gloriosa por entre os camponeses. Das casas comerciais os empregados espiavam.

No meio da feira o palhaço parou e pediu silêncio:

 - Respeitável público! Baldo, campeão mundial de luta livre, boxe e capoeira, que veio do Rio de Janeiro expressamente (carregava expressamente) para trabalhar no Grande Circo Internacional, ganhando três contos por mês, casa, comida e roupa lavada…


 - Upa! – murmurou um camponês. 

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