Episódio Nº 125
Mas era mentira, não era?
Gente do circo é ruim… Você não se fie em gente do circo. É gente invejosa… Ela
lá podia ter um amante… Eles tinham era inveja do sucesso que ela fazia.
O que me dá raiva e me faz
beber é pensar que ela podia ter mesmo um amante. Tinha as cartas. Mas ela era
tão boa. Gostar daquela vida não gostava, não. Mas não era mulher para ter
amante.
Mas tinha as cartas.
Falava em encontros… Eu só queria ela viva para me dizer que era mentira, que
era tudo inveja. Você não acha que era?
Será que ele vai chorar?
Apertou a cabeça nas mãos e cerrou os olhos. Agora é António Balduíno quem vira
a garrafa de cachaça e bebe um trago enorme. Lá fora está uma noite de
Primavera também.
- E o palhaço é o que é?
- É ladrão de mulher…
- Olha a negra na janela…
- Com a cara de panela…
O palhaço Bolão vai
montado de costas num jumento. No fundo da cidade o circo a domina. Cheio de
bandeiras, com dois anúncios na porta.
De noite a música tocará
ali e negras venderão cocada. A cidade só fala no circo, nas artistas, na negra
que dança quase nua e principalmente no negro Baldo que desafia os homens da
feira de Sant’Ana.
Os homens na grande feira
comentam. Luigi esperou a segunda-feira para estrear. É que neste dia há feira
de gado e vêm homens de toda a redondeza vender os seus bois.
O palhaço está
atravessando o Largo da Feira:
- Hoje tem espectáculo?
- Tem sim senhor…
Os meninos que vieram da
fazenda trazer rapadura e requeijão para vender, olham com inveja os moleques
da cidade que acompanham o palhaço e entrarão de borla no circo. Um camponês
diz a outro:
- Chi. Eu gosto de circo que me acabo…
- Já vi um, menino, um chamado Europeu que era
batuta…
- Diz que esse é bom…
- Que é grande é… Se o palhaço for de verdade…
- Eu vou dormi aqui
só para ir…
- Diz que não tem mais lugar. Tá tudo vendido.
Moleques combinavam entrar
por debaixo do pano. O palhaço continuava a sua passeata gloriosa por entre os
camponeses. Das casas comerciais os empregados espiavam.
No meio da feira o palhaço
parou e pediu silêncio:
- Respeitável público! Baldo, campeão mundial
de luta livre, boxe e capoeira, que veio do Rio de Janeiro expressamente
(carregava expressamente) para trabalhar no Grande Circo Internacional,
ganhando três contos por mês, casa, comida e roupa lavada…
- Upa! – murmurou um camponês.
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