segunda-feira, outubro 21, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 142


Que era gostosa era mesmo, mas ele não era homem de ser enganado assim. Sempre se gabara de largar as suas amantes e Rosenda queria brincar com ele. Onde andaria?

Teriam se metido num hotel? Era bem capaz, que o gringo era sujeito de dinheiro. Mas ele os pegaria e lhes daria uma lição.

A chuva bate no telhado. Valerá a pena sair para procurá-los? Talvez seja melhor ficar em casa e trancar a porta do quarto. Ela que durma na rua. Porém, mal formula este pensamento, sente falta do corpo esguio e quente de Rosenda.

Demais, ela quando dorme com um homem é como se dançasse. Sabe coisas aquela negra! António Balduíno sorri. A noite é fria, a chuva cai com violência. Um gato se enrosca nas suas pernas procurando calor.

A cama velha é macia. Bom colchão o daquele quarto. Em muita pensão não tem um colchão assim. E Rosenda em que cama estar«á com o gringo?

Talvez seja um colchão duro. Ela mereceria uma surra. Não vale a pena um homem matar outro por causa de uma vagabunda como Rosenda.

Ele esfaqueou Zéquinha mas Arminda era uma menina de doze anos, que nada sabia da vida. Aquele negro, que há poucos dias foi condenado a 18 anos de prisão, matou um gringo, mas Mariinha era donzela e noiva do negro.

Ele devia era dar uma surra no alemão e deixar Rosenda por aí. Mas como está frio! Bota o gato no colo. O bichano fica satisfeito, esfrega a cabeça nas suas pernas.

Assim ele não sairá para procurá-los. O urso está inquieto. Talvez ele tenha medo da chuva, talvez tenha saudades de alguém. Mas urso lá pode ter saudades?

Coitado daquele urso… Há quantos anos não vê uma fêmea? António Balduíno não pode passar uma semana sem ter mulher – ri com satisfação.

Talvez o urso seja capado. Vai examinar. O animal se encolhe zangado. Não é capado nem é macho. É uma fêmea, isso sim. Que irá fazer com aquele urso na Baía?

Bom seria soltá-lo no morro do Capa negro. Pensariam que era um lobisomem. A chuva melhorou. Ele se levanta. Irá procurar Rosenda. Sacode o gato longe mas Rosenda Rosedá acaba de entrar e vem rindo, os dentes brancos à mostra.

Repara logo na cara zangada de António Balduíno. Vem rindo para o negro:

 - Tá zangado, benzinho? Foi o urso?

 - Você faz de besta, negra. Então pensa que eu não sei que foi encontrar-se com aquele gringo?

 - Que gringo, meu Deus?

Será verdadeira esta surpresa que se estampa no seu rosto? Mas Balduíno pensa que mulher é bicho ruim e traiçoeiro. Toda a vez que ele pensa em mulher ruim se lembra de Amélia, a empregada da casa do comendador. Amélia mentia cinicamente, com a mesma cara de quem está a dizer a maior verdade do mundo.

Bem que Rosenda pode estar mentindo para cima dele com aquela cara inocente:

 - Então onde era que você tava?


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