terça-feira, outubro 22, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 143


 - A gente não pode ir dar um dedo de prosa a casa de uma vizinha, gentes?

 - Vizinha…

 - É só ir procurar à mulher de seu Zuca. Eu tava lá… Ela conheceu uns parentes meus que teve por estas bandas.

O urso impacientava-se cada vez mais. António Balduíno agora sente pouca vontade de discutir. Está disposto a aceitar todas as desculpas. O que ele quer é deitar no colchão fofo, tendo junto do seu corpo o corpo quente de Rosenda.

A chuva aumentou novamente e escorre pelos telhados. Tem uma goteira bem no meio do quarto que vai fazendo um buraco no chão de barro batido.

O urso anda em volta da corrente. Rosenda o agarra, passa a mão na sua pele. Mas o urso continua impaciente. De nada valem as carícias de Rosenda. António Balduíno, estirado na cama, pensa num meio de fazer as pazes.

Ele quer a Rosenda junto dele, o corpo junto do seu, o ventre dançando encostado à sua barriga. Talvez amanhã lhe dê uma surra e a abandone. Porém hoje não. Ele precisa dela, do seu corpo, da sua quentura.

O pior é que já brigou e não pode fazer as pazes assim de repente. Ela ainda está zangada e agrada ao urso. Ele não sabe como começar. Fecha os olhos mas ela não vem para a cama.

E no entanto chove lá fora, o vento passa na rua zunindo, entra pela frincha da porta. Será que ela não sente esse convite?

Ela está muito zangada. Talvez tenha razão. Bem que ela podia estar com a vizinha, aquela mulher de seu Zuca que sabe da vida de todo o mundo.

Ela tira o vestido. O vestido não está molhado. Se ela tivesse ido longe, se tivesse ido com o gringo, volveria encharcada, com certeza. Ele ficou sozinho, começou a pensar besteira.

O gato se enroscou nos seus pés e faz um calor gostoso. Mas o resto do corpo está abandonado ao frio. A chuva bate no telhado. Ele se lembra de uns versos que o Gordo sabe. Falam da música da chuva no telhado e de uma mulher que chega de madrugada.

Ele não tem bem a certeza se ela vinha a cavalo ou a pé. Caiu a combinação de Rosenda Rosedá e agora os seios da negra enchem o quarto. É só o que vêm os olhos de António Balduíno.

Poucas donzelas terão os seios que ela tem, erectos e duros. António Balduíno atira o cigarro fora. E fazendo um esforço enorme diz:

 - Você sabe que este urso é uma ursa?

 - O quê?

 - O urso é fêmea, negra…

Os seios se despencam sobre o peito. E no cenário da chuva e do frio, do vento que zune na rua, Rosenda dança unicamente para ele. Empurra com o pé o gato que sai miando…


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