Episódio Nº 143
- A gente não pode ir dar um dedo de prosa a casa de uma
vizinha, gentes?
- Vizinha…
- É só ir procurar à mulher de seu Zuca. Eu
tava lá… Ela conheceu uns parentes meus que teve por estas bandas.
O urso impacientava-se
cada vez mais. António Balduíno agora sente pouca vontade de discutir. Está
disposto a aceitar todas as desculpas. O que ele quer é deitar no colchão fofo,
tendo junto do seu corpo o corpo quente de Rosenda.
A chuva aumentou novamente
e escorre pelos telhados. Tem uma goteira bem no meio do quarto que vai fazendo
um buraco no chão de barro batido.
O urso anda em volta da
corrente. Rosenda o agarra, passa a mão na sua pele. Mas o urso continua
impaciente. De nada valem as carícias de Rosenda. António Balduíno, estirado na
cama, pensa num meio de fazer as pazes.
Ele quer a Rosenda junto
dele, o corpo junto do seu, o ventre dançando encostado à sua barriga. Talvez
amanhã lhe dê uma surra e a abandone. Porém hoje não. Ele precisa dela, do seu
corpo, da sua quentura.
O pior é que já brigou e
não pode fazer as pazes assim de repente. Ela ainda está zangada e agrada ao
urso. Ele não sabe como começar. Fecha os olhos mas ela não vem para a cama.
E no entanto chove lá fora,
o vento passa na rua zunindo, entra pela frincha da porta. Será que ela não
sente esse convite?
Ela está muito zangada.
Talvez tenha razão. Bem que ela podia estar com a vizinha, aquela mulher de seu
Zuca que sabe da vida de todo o mundo.
Ela tira o vestido. O
vestido não está molhado. Se ela tivesse ido longe, se tivesse ido com o
gringo, volveria encharcada, com certeza. Ele ficou sozinho, começou a pensar
besteira.
O gato se enroscou nos
seus pés e faz um calor gostoso. Mas o resto do corpo está abandonado ao frio.
A chuva bate no telhado. Ele se lembra de uns versos que o Gordo sabe. Falam da
música da chuva no telhado e de uma mulher que chega de madrugada.
Ele não tem bem a certeza
se ela vinha a cavalo ou a pé. Caiu a combinação de Rosenda Rosedá e agora os
seios da negra enchem o quarto. É só o que vêm os olhos de António Balduíno.
Poucas donzelas terão os
seios que ela tem, erectos e duros. António Balduíno atira o cigarro fora. E
fazendo um esforço enorme diz:
- Você sabe que este urso é uma ursa?
- O quê?
- O urso é fêmea, negra…
Os seios se despencam
sobre o peito. E no cenário da chuva e do frio, do vento que zune na rua,
Rosenda dança unicamente para ele. Empurra com o pé o gato que sai miando…
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