sábado, outubro 26, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 147

Ele nunca ouviu dizer. Mas histórias sem anjos perdem a graça e o Gordo resolve dar um anjo ao urso, quando Balduíno chega e repete o que ouvia Luigi dizer acerca do leão:

 - Esse monstro que está aqui, respeitável público, foi pegado nas selvas africanas. É três vezes assassino, já matou  três denodados domadores. Se lembra palavra por palavra do discurso que Luigi repetia todas as noites. É um assassino… Pois ele irá trabalhar e todos poderão observá-lo, porém com cuidado. Não se esqueçam que ele já matou três…

O Gordo olha para o focinho do urso e descobre que ele tem uns olhos meigos de criança e é incapaz de matar quem quer que seja.

Não é direito que António Balduíno o chame de assassino. Mas o urso está andando de cabeça para baixo e o grupo aumenta em torno.

Rosenda lê a mão dos homens. Eles gostam porque ela faz uma cócega engraçada que dá uma comichão no corpo. Rosenda sabe ganhar dinheiro. Diz rindo para um mulato pachola:

 - Tem uma cabrocha que tá doidinha por você…

O mulato sorri para Rosenda. Bem que podia ser ela mesmo… Ela vai guardando os níqueis de cruzado. O Gordo recolhe dinheiro para o urso no chapéu de palha. António Balduíno, muito elegante com sapatos vermelhos e camisa vermelha faz o elogio do bicho.

 A feira se movimenta em redor deles.


Um automóvel está parado na rua. Enguiçou. O chofer se mete debaixo do carro a procurar motivo da encrenca. Um homem explica ao grupo.

 - Não estou dizendo? Máquina não vale de nada… O cavalo Fogoso nunca encrencou. Vocês já viram um cavalo encrencar?

Antes ele estava contando a história do cavalo Fogoso que seu cunhado possuía. Ele é contra o cavalo motor. Faz a apologia do cavalo animal, do carro de boi. Citava a Bíblia.

Jubiabá ouve encolhido. Os outros cortam a conversa com sinais de aprovação.

Quando Jubiabá chegou eles contaram o dinheiro que tinham ganho – cinquenta e nove mil reis, uma fortuna – e ficaram divertindo-se na feira que estava animada.

O urso vai atrás deles. Em frente à barraca onde Joaquim bebe, eles todos param. E ficaram ouvindo o homem que contava a história do cavalo Fogoso:

 - E naquele tempo, quando não tinha aquilo – aponta o auto encrencado – os homens viviam muito… Matusalém viveu novecentos anos… Tá na Bíblia.

Tá mesmo – apoia um mulato claro e velho.

Todo mundo vivia duzentos anos, trezentos anos. Cem, então, era besteira. Veja na Bíblia…

- Diz que papagaio vive mais de cem anos…


O homem olhou zangado para o aparteante. Mas quando viu que era Rosenda fez um sorriso.

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