Episódio Nº 148
- Vivia mesmo.
Noé viveu não sei quanto tempo. Naquele tempo era carro de boi.
Bebeu a pinga. O mulato claro apoiou:
- Era, sim.
O mulato queria provar que também tinha conhecimentos.
O negro apoiava com a cabeça. Estava admirando o homem que citava a Bíblia.
- Um homem saía
de casa num carro de boi, sabia que chegava onde queria ir. Agora um sujeito
sai num bicho destes – apontava o auto desmoralizado – e fica no meio do
caminho…
Falta gasolina. Em carro de boi nunca faltou gasolina.
É por isso que hoje os homens morrem meninos. Máqui nas
não é invenção de Deus. É coisa do diabo.
O mulato claro apoiou. O homem continuou:
- No tempo do
carro de bois mulher dava à luz com cem anos…
- Tá, nisso eu
não acredito. Me desculpe mas mulher parir com cem anos não me entra… -
declarou António Balduíno.
Todos riram menos o mulato claro.
- Pois está na
Bíblia… - fez o homem.
Mas não havia jeito de António Balduíno acreditar.
«Mulher parir com cem anos? Não, ele não ia nisso. Aquele homem estava a fazer
deles de besta, bobeando todo o mundo com aquelas histórias». E ele vai abrir a
boca para dizer isto mesmo, quando Jubiabá fala:
- No tempo do
carro de boi tinha negro com fome. Hoje também tem. É a mesma coisa.
O mulato velho apoia:
- Ah! Isso é
mesmo – e alarga o conceito – para pobre…
Mas a feira está vivendo atrás deles e enquanto
Jubiabá com versa com o homem que odeia os automóveis (ele agora está contando
a história de uma doença que sofre há muitos anos), saem pela feira, sem rumo
definido, parando nas barracas, conversando com os camponeses, comendo coisas.
Um homem bêbedo olha Rosenda e diz:
- Eta1 Mulata
batuta…
António Balduíno se ofende mas Rosenda não o deixa
brigar:
- Não está
vendo que o homem está bêbedo?
- E ele não
está vendo que você vai com um macho?
Não, o homem não está vendo nada que ele bebeu muito
em todas as barracas onde tem cachaça. Mas soube ver Rosenda, soube ver que ela
é uma cabrocha bonita. Já afastado António Balduíno ainda tem vontade de voltar
a interrogar o homem.
Mais adiante sai um barulho. Jubiabá vem dizer que vai
embora. Atrás dele segue o homem que odeia os automóveis e que agora tem uma
grande confiança de se curar com as rezas de Jubiabá.
O barulho aumentou no outro lado da feira. António
Balduíno nota que o gordo não está com eles. Pergunta:
- Quede o
Gordo?
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