(David Slown
Wilsson)
As
Artes Vitais
Artes Visuais
A arte visual numa
perspectiva cultural evolutiva.
Veja-se
como Kathryn Coe (na sua obra The Ancestress Hypothesis: Visual Art as
Adaptation), pioneira no estudo da arte visual nessa perspectiva cultural
evolutiva, descreve a forma como Anna Shaw, uma mulher da tribo “pima” do
Arizona aprendeu a entrançar o vime:
- «Anna passava horas a apanhar unha-do-diabo,
raminhos de salgueiro e tábua-larga na companhia da avó enquanto percorriam
juntas o deserto de Sonora.
A
observar e a ajudar, Anna foi aprendendo quando e como apanhar os materiais que
lhe viriam a ser úteis. Enquanto ajudava a avó a preparar estes materiais para
os entrançar, Anna desenvolveu as suas próprias aptidões.
Ao ver a
avó trabalhar, via crescer a forma dos cestos e surgir os motivos decorativos.
Ao princípio aquele trabalho era difícil para os seus dedos infantis, e os
cestos tinham de ser entrançados, depois desfeitos e depois entrançados até o
trabalho ficar como devia ser.
Ela
conta-nos que a avó lhe dizia que “fazer cestos serve para te ensinar a
paciência, minha neta”.
Quando o
seu primeiro cesto bem feito ficou acabado, ela foi considerada uma mulher, e o
seu estatuto de adulta teve início quando ofereceu esse cesto à avó.»
Este
exemplo mostra que o processo de fazer arte é pelo menos tão importante como o
produto acabado.
E depois,
Kathryn prossegue:
«Aqueles
anos de aprendizagem forneceram uma oportunidade para uma rapariga desenvolver
uma relação com a avó e ouvir histórias sobre os antepassados comuns, incluindo
o significado dos motivos decorativos que ambas haviam herdado desses mesmos antepassados,
até à primeira mulher “pima” que tinha feito os primeiros cestos.
Os
antepassados estavam à espera que a avó ensinasse a neta a fazer os cestos e
também estavam à espera que a neta os aprendesse a fazer para mostrar a sua
generosidade oferecendo à avó o seu primeiro cesto bem feito, sendo essa a
origem da sua aptidão nessa arte.
… Eles
também esperavam que ela respeitasse os idosos, fosse leal e generosa, se
tornasse uma boa esposa e uma boa mãe e cooperasse e fosse generosa com a sua
gente, primeiro com a família e depois com os outros “pima”.
Era com
estes que Anna partilhava um antepassado comum e eram eles que podiam ser
identificados não apenas pela língua que falavam e pela maneira de vestir, mas
também pelos cestos característicos feitos pelas mulheres.»
Quando é
exigida a perfeição na arte para se alcançar um estatuto elevado é também
necessária paciência, obediência, respeito e muitos anos na presença de anciãos
que transmitem outras informações para além das aptidões, o valor adaptativo da
arte no sentido lato torna-se plausível.
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