(3 de Novembro de 2013)
(Na minha cidade de Santarém)
O Orçamento para 2014 foi aprovado sem
dificuldades no Parlamento porque, como sabem, o governo tem uma maioria
simples de deputados, metade mais um, o que lhe basta para assegurar a passagem
dos diplomas.
Ficamos agora sem saber, e essa é uma
novidade da actual situação política no país, é se o Tribunal Constitucional,
caso o diploma lhe seja apresentado para verificação de constitucionalidade, o
que é mais que certo, passará na totalidade das suas normas.
Os portugueses, os da chamada camada média,
cada vez menos média, debatem-se na dúvida se para eles será preferível ou não
viverem no próximo ano com este Orçamento e, dessa forma, satisfazerem os
credores e chegarmos ao fim do Acordo de Entendimento e da Troika em meados do próximo
ano, ou corrermos o risco de uma reacção desfavorável dos mercados com a taxa
de juros a subir ainda mais tal como um chicote punitivo.
Entre viver com menos dinheiro e viver
sem dinheiro nenhum eu vou pela primeira hipótese porque me parece impossível
fugir ao “castigo” de tantos anos de descalabro financeiro vivendo cada vez
mais dos empréstimos do estrangeiro.
Eu sei que a oposição tem razão quando
aponta para os resultados da austeridade, mas ainda que ela tenha sido mal
aplicada por governantes que não estavam à altura de funções tão espinhosas, o
que me parece é que depois de termos aceite as condições do empréstimo dos
78000 milhões e assinado o Acordo em 2011 pelos três partidos que representaram
o país, agora temos que o honrar…. Isto parece-me óbvio.
Como também me parece óbvio que com a dívida que
temos, com os encargos de juros anuais de 7.000 milhões, as dificuldades de
acesso ao investimento e uma Europa, toda ela a viver com restrições
financeiras e enormes taxas de desemprego, a situação é inultrapassável para o nosso país.
A política da Comunidade Europeia vai
ter de mudar. A Europa foi vítima da globalização e desregulamentação dos
mercados que atingiram as democracias nacionais e agora tem que criar processos
legítimos para se defender.
“A união monetária precisa de
um quadro comum de políticas fiscais, económicas e sociais porque só assim se
conseguirá libertar das garras dos mercados financeiros e responsabilizar os
investidores em vez dos contribuintes.”
Quem o afirma é o filósofo alemão e um
dos maiores pensadores do nosso tempo, Jurgen Habernas, que recentemente esteve
em Lisboa a convite da Gulbenkian.
E acrescenta o reconhecimento de um
aspecto muito importante. Diz ele:
- “Sob a liderança do governo alemão o Conselho Europeu tem
trazido uma agenda que sublinha a prioridade de cada estado equi librar o seu orçamento por conta própria. Nos
países que se debatem com crises estas políticas têm adversamente afectado o
mercado de trabalho, os sistemas de Segurança Social, os Serviços públicos e os
Bens Colectivos. O que significa que têm sido implementados às custas dos
sectores da sociedade que já estão desprotegidas
e especialmente dos desempregados e das gerações mais jovens.”
Entretanto, Ângela Merkel, tem planos
para fazer uma reforma maciça dos Tratados que regulam a União Europeia para
que o Governo Comunitário tenha o direito de estabelecer com cada Estado membro
uma espécie de acordo para melhorar a competitividade, o investimento e a
disciplina orçamental.
Em troca, seria criado um orçamento
extraordinário com uma dotação de milhares de milhões de euros que estivesse à
disposição dos Estados membros, para além de avançar com um ministro das
Finanças do euro.
Isto significa «mais Europa», o que pode
ser bom para um país como o nosso que ao longo da sua história, recente e
passada, parece coleccionar situações de falência que assumem aspectos de um mal
crónico.
E porque estamos a falar da Europa como
destino, lembre-mo-nos do Império Romano cuja grandeza, para além do legado arqui tectónico e da engenharia das coisas físicas, residiu na profunda compreensão que sem se alimentar o desejo
de justiça que jamais se apaga da alma dos indivíduos não há impérios ou
comunidades que sobrevivam.
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