sábado, novembro 02, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 153


Seu Juvêncio reclamou de novo. Na terceira vez disse que o sargento não podia continuar dançando. O sargento empurrou seu Juvêncio.

António Balduíno se meteu, apoiando seu Juvêncio, derrubou o sargento que saíu desmoralizado, ameaçando. Depois foi beber uma cerveja com o secretário. Mas não é que o sargento voltou com uma turma de soldados?

E saíu um barulho feio. Foi uma pancadaria medonha. Houve quem se trancasse na latrina e até tiros os soldados dispararam. A festa acabou com cabeças quebradas e gente na cadeia. António Balduíno conseguiu escapar.

Ficou célebre no “Liberdade na Baía” e quando aparecia seu Juvêncio fazia muita festa, mandava descer cerveja. Mas a verdade é que ele preferia as festas do morro do Capa Negro, das ruas de Itapagipe, do Rio vermelho, aos bailes do “Liberdade na Baía”.

No carnaval sim, é que gostava do clube porque saía vestido de índio, com penas vermelhas e verdes, cantando canções de macumba. No carnaval era bom. Mas no São João ele preferia ir para a festa que João Francisco dava na sua casa, no Rio Vermelho, com uma fogueira enorme na porta, um mundo de balões, foguetes, muita cangica e licor de genipapo.

Mas esse ano teria que ir ao “Liberdade na Baía”, pois Rosenda Rosedá fizera um vestido de baile e queria estrear na festa do clube. Era vaidosa aquela mulata! Ele bem preferia ir à festa do João Francisco.

António Balduíno vinha pensando que Rosenda Rosedá estava ficando insuportável. Queria mandar nele. Um dia destes ele dava-lhe um pontapé e a botaria para fora de casa.

A negra vivia querendo coisas, fizera vender o urso para comprar um vestido de baile (podia comprar a prestações a um turco), naquele dia pedira um colar que vira numa casa da rua Chile por doze mil reis.

Ele saíra para comprar mas se encontrara com Vicente e deu dez mil reis para o enterro de Clarimundo, que morreu debaixo de um guindaste no cais do porto.

O sindicato ia fazer o enterro mas estivadores queriam arranjar algum dinheiro para a viúva e andavam fazendo uma colecta. Iam levar uma coroa também.

O pobre morreu debaixo do guindaste, aquela bola de ferro batera na sua cabeça (ele carregava um fardo e não podia olhar para cima), e deixava a mulher com quatro filhos pequenos.

António Balduíno deu os dez mil reis e ficou de falar com Jubiabá para ver se o pai santo conseguia arranjar mais alguma coisa para a mulher.

Balduíno conhecera muito o negro Clarimundo, sempre risonho, sempre cantando, e que casara com uma mulata clara. «Uma tábua» como dizia Joaquim. Um bom companheiro que desapertava um amigo quando estava com dinheiro.

Agora tinha morrido, a mulher ia viver do que os outros dessem. De que valia trabalhar, viver debaixo dos fardos carregando os navios? Depois morria e deixava os filhos sem ter de que viver.


O velho Salustiano pegara e se jogara na água. E foi de tanto pensar nestas coisas que Viriato, o Anão, se matara numa noite de temporal.

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