Episódio Nº 153
Seu Juvêncio reclamou de novo. Na
terceira vez disse que o sargento não podia continuar dançando. O sargento
empurrou seu Juvêncio.
António Balduíno se meteu, apoiando seu
Juvêncio, derrubou o sargento que saíu desmoralizado, ameaçando. Depois foi
beber uma cerveja com o secretário. Mas não é que o sargento voltou com uma
turma de soldados?
E saíu um barulho feio. Foi uma
pancadaria medonha. Houve quem se trancasse na latrina e até tiros os soldados
dispararam. A festa acabou com cabeças quebradas e gente na cadeia. António
Balduíno conseguiu escapar.
Ficou célebre no “Liberdade na Baía” e
quando aparecia seu Juvêncio fazia muita festa, mandava descer cerveja. Mas a
verdade é que ele preferia as festas do morro do Capa Negro, das ruas de
Itapagipe, do Rio vermelho, aos bailes do “Liberdade na Baía”.
No carnaval sim, é que gostava do clube
porque saía vestido de índio, com penas vermelhas e verdes, cantando canções de
macumba. No carnaval era bom. Mas no São João ele preferia ir para a festa que
João Francisco dava na sua casa, no Rio Vermelho, com uma fogueira enorme na
porta, um mundo de balões, foguetes, muita cangica e licor de genipapo.
Mas esse ano teria que ir ao “Liberdade
na Baía”, pois Rosenda Rosedá fizera um vestido de baile e queria estrear na
festa do clube. Era vaidosa aquela mulata! Ele bem preferia ir à festa do João
Francisco.
António Balduíno vinha pensando que
Rosenda Rosedá estava ficando insuportável. Queria mandar nele. Um dia destes
ele dava-lhe um pontapé e a botaria para fora de casa.
A negra vivia querendo coisas, fizera
vender o urso para comprar um vestido de baile (podia comprar a prestações a um
turco), naquele dia pedira um colar que vira numa casa da rua Chile por doze
mil reis.
Ele saíra para comprar mas se encontrara
com Vicente e deu dez mil reis para o enterro de Clarimundo, que morreu debaixo
de um guindaste no cais do porto.
O sindicato ia fazer o enterro mas
estivadores queriam arranjar algum dinheiro para a viúva e andavam fazendo uma
colecta. Iam levar uma coroa também.
O pobre morreu debaixo do guindaste,
aquela bola de ferro batera na sua cabeça (ele carregava um fardo e não podia
olhar para cima), e deixava a mulher com quatro filhos pequenos.
António Balduíno deu os dez mil reis e ficou
de falar com Jubiabá para ver se o pai santo conseguia arranjar mais alguma
coisa para a mulher.
Balduíno conhecera muito o negro
Clarimundo, sempre risonho, sempre cantando, e que casara com uma mulata clara.
«Uma tábua» como dizia Joaqui m. Um
bom companheiro que desapertava um amigo quando estava com dinheiro.
Agora tinha morrido, a mulher ia viver
do que os outros dessem. De que valia trabalhar, viver debaixo dos fardos
carregando os navios? Depois morria e deixava os filhos sem ter de que viver.
O velho Salustiano pegara e se jogara na
água. E foi de tanto pensar nestas coisas que Viriato, o Anão, se matara numa
noite de temporal.
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