sexta-feira, novembro 01, 2013

JUBIABÁ

Episódio 152


Com a alma leve António Balduíno se retirou e cantou o A B C para Rosenda e Jubiabá que o acharam uma beleza. Jubiabá arranjou com seu Jerónimo do mercado que o A B C saísse na “Biblioteca do Povo” (Colectânea das melhores poesias sertanejas, trovas populares, histórias, modinhas, recitativos, orações, receitas úteis, anedotas etc… ao preço de 200 reis).

Saiu junto com a História do Boi Misterioso e com o Caboclo e o recém-nascido e depressa foi decorado pelos estivadores do cais, pelos mestres de saveiros (que a levaram para os cegos das cidades do recôncavo), pelos malandros da cidade, por todos os negros. Agora António Balduíno só pensava em entrar para o “Jazz dos 7 Canários”.


Era sócio do “Liberdade da Baía” mas não aparecia muito por lá. Tinha sempre festas onde ir e no “Liberdade na Baía” a bebida era paga e bóia não havia. Só mesmo por causa de uma mulata ele se abalava para o clube onde seu Juvêncio, o secretário, um negro gordo que era também mestre-sala, lhe dizia invariavelmente:

 - Até que enfim seu Balduíno, deu essa honra ao clube. Parece que despreza a gente…

Não despreza nada. Mas no “Liberdade” não podia dançar agarrado que era proibido, não podia ficar conversando com a dama no meio da sala, não se admitia gente bêbeda.

Tudo isso desagradava ao negro que não sabia se conter, que apertava as negras na dança, que muitas vezes ficava bêbedo.

Lembra-se bem da primeira vez que fora ao clube. Fazia muito tempo. Mal entrara tivera uma briga com seu Juvêncio. O Jazz estava tocando num entusiasmo delirante. Por sinal que era um dos seus sambas, dos primeiros que vendera ao poeta.

Ele tirou uma mulata para dançar (a Isolina, com quem andava de namoro).

Começaram a dançar pela sala e o negro apertou a mulata. Foi o que bastou para seu Juvêncio se meter:

 - Isso não pode… – seu Juvêncio era um mestre-sala muito rigoroso.

 - O que é que não pode?

 - Isso aqui não é local para molecagem.

 - Quem é que está fazendo molecagem?

- O senhor com esta dama.

Balduíno mandou a mão na cara do secretário. Formou barulho mas Jubiabá se meteu e desapertou. Seu Juvêncio explicou que tinha de manter a moral do clube. Se fosse permitir molecagem ali as famílias não viriam mais e que haviam de dizer os pais das moças donzelas que confiavam no clube?

Não importava que ninguém se gostasse. Isso não. Ele lá tinha nada com a vida dos outros! Mas dentro do clube, não. Ali queria respeito e muito respeito. Ali não era casa de mulher dama. Era uma sociedade recreativa e dançante. Isso sim.

António Balduíno achou que ele tinha razão e fizeram as pazes. O negro continuou a dançar e a beber. Acontece que o Gordo veio também e ficaram muito alegres. Mas quase à uma da manhã um sargento do exército começou a dançar muito escandalosamente com uma branca.


Seu Juvêncio reclamou a primeira vez, o sargento nem ligou.

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