domingo, novembro 10, 2013

HOJE É 

DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém em 10/11/2013



Para nós, reformados, os Domingos já não são Domingos. O que tinham eles de mais importante que não fosse a folga no trabalho, a pausa nas relações do dia-a-dia com os colegas, o arrumar do despertador na noite de sábado?

É certo que a vida continuou mas mais a título de acrescento, como observadores e sem que nunca me tenha desaparecido esta sensação desagradável de viver à custa dos outros…


Pagam-me o mesmo sem eu fazer nada – (é certo que agora cada vez menos…) - por “obra e graça” do Estado Social, das conquistas da Social-Democracia em vias de desaparecimento.

Como diz Boaventura Sousa Santos “o capitalismo financeiro não tolera economias com distribuição social”.

Tenho, para mim, que caímos numa terrível armadilha para a qual caminhámos ou melhor, nos conduziram, como ratinhos cegos e inconscientes e ainda hoje esperamos que à última da hora alguém nos venha salvar.



 Não é possível distribuir riqueza que não se produza… e este princípio nunca deve ser esquecido, exactamente como princípio. Viver a crédito encerra sempre um grande risco: de um dia os credores dizerem: “basta”!

Consultam-se agora os sábios, ouvem-se as iminências do costume: economistas, políticos, ex- governantes, comentadores, mas das suas doutas palavras apenas se retiram ténues esperanças. Ninguém tem soluções, a problemática é tão intrincada que não se vê saída que não seja “para os quintos do inferno…”. O destino parece ser pagar... mas como e quando?

Erros, todos apontam, críticas, então, quem não as faz, as queixas, essas, não têm fim, mas de que servem?

Os governos estão encurralados, impotentes, incapazes, dependentes de uma entidade que tem muitos nomes a começar por “mercados”, agências de Rating, “troika”, senhora Merkel… e por todas as forças que na luz difusa dos gabinetes, no cimo dos arranha-céus, gerem silenciosamente, de forma não democrática, os destinos da humanidade…

Boaventura Sousa Santos,  que é Director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra mas que passa parte do ano a ensinar nos EUA, prevê que “haverá perturbações civis nos próximos meses” e Eduardo Lourenço, o mais importante filósofo e pensador de língua portuguesa, diz que “Se as manifestações de indignados não fossem inconsequentes o mundo já estava a arder”e remata com a afirmação de que “A Europa condicionou a civilização mundial e agora não tem liderança. Está paralisada. Os problemas refluíram para ela própria”.



Longe vão os tempos em que tínhamos nas nossas casas um décimo das coisas que temos hoje mas em contrapartida as preocupações para o dia seguinte era se fazia sol ou chuva ou se aquela dor chata na coluna iria melhorar...

Quem havia de esperar que o consumismo desenfreado que a tanto emprego e dinamismo deu lugar havia de conduzir a este ponto? - Mais de 17% de desemprego, emigração em massa, um grupo enorme de pessoas meia-idade que, realisticamente, não têm mais condições para voltar ao mercado de trabalho e velhos… cada vez mais velhos, tristes, muito deles sós, “pendurados” num Estado falido.


Percebe-se, por isto, que em 2011 tenham sido vendidas por mês, em média, 564.000 embalagens de anti-depressivos e desde a última década, quando a taxa de desemprego era então de 4%, o aumento destes psico-fármacos tenha disparado 177%.

Em média, por dia, até Agosto de 2013, mais de 75 mil embalagens de anti-depressivos, estabilizadores de humor, tranquilizantes, hipnóticos e sedativos, um aumento de 1,9% face ao mesmo período do 2012, revelam dados da consultora IMS Health.

No total, entre Janeiro e Agosto deste ano, foram vendidas 18 milhões de embalagens destes medicamentos, mais 339.961 caixas (1,9%) relativamente ao período homólogo de 2012, indicam os dados divulgados à agência Lusa a propósito do Dia Europeu da Depressão, que se assinala no dia 01 de Outubro.

É o fim de um ciclo e o caminho irá agora ser longo e doloroso como sempre acontece nos períodos de transição mas dele irá nascer um novo Portugal, forçosamente diferente do anterior, mais selectivo, mais rigoroso, mais especializado e competitivo, com mais futuro, integrado numa Europa que nos limitará cada vez mais a independência, obrigando-nos a gerir os dinheiros com disciplina orçamental em contradição comum passado de excessos que já vêm de longe.

As lideranças políticas dos dois partidos de centro, PS/ PSD, o “centrão”, no dizer dos comentadores, que têm governado este país em democracia, por duas vezes conduziram-nos a uma situação de falência financeira. Primeiro em 1983, com Mário Soares do PS e a intervenção do FMI, e em 2011 com José Sócrates, aos pés da Troika.
Por eles, PSD/PS, passaram o BPN, o BPP, as PPP (Parecerias Públicas Privadas), os Contratos Swaps (que ninguém percebeu muito bem o que eram), etc…, etc…  
Mas muito antes,em 1892, já tinha sido declarada falência. Antero de Quental, poeta e filósofo, afirmava então que Portugal se desmoronava desde o Século XIX. Era um pedinte do exterior.
Desta vez, não há muletas: nem o ouro do Brasil, especiarias da Índia, comércio de escravos, matérias-primas das colónias a preço de saldo, não, desta vez terá que ser totalmente por mérito nosso, dos portugueses e da sua juventude muito mais culta e preparada e, esperamos, mais honesta politicamente.

Nada está escrito nas estrelas, tudo vai depender do que fizermos no dia a dia, e da política da Comunidade Europeia da qual fazemos parte e que também tem fortes responsabilidades, tal como a desregulamentação do sistema financeiro internacional, na situação a que chegámos.

Receio que a Constituição tenha que ser adaptada aos novos tempos e a estrutura dos partidos políticos, fechados, cujos interesses facilmente se sobrepôem aos do país, transformando a democracia portuguesa em partidocracia, uma espécie de tirania dos partidos, tenha que ser mexida.

As últimas eleições autárquicas com vitórias significativas de candidatos independentes e a indisciplina de outros que não cumpriram as orientações partidárias candidatando-se e vencendo à rebeldia destes é o sintoma de que algo está profundamente errado.

O que resta saber são os custos sociais do que vier a acontecer se essas alterações resultarem de rupturas na sociedade que podem ser violentas. Os partidos estão fortemente estribados no poder e não se vão abrir facilmente fragilizando as suas actuais estruturas. 

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