sábado, novembro 09, 2013

JUBIABÁ

Episódio Nº 158


Onde é que já se viu uma dama, que vem acompanhada para um baile, dançar com um desconhecido sem falar com o cavalheiro que a trouxe?

Aquilo não está direito. Rosenda está bobeando ele. Ela ficou danada com o negócio do colar e agora quer irritar o negro. Zefa não foi dançar. Vem para a mesa deles, aceita cerveja:

 - Tua mulata tá cutuba, Baldo. Olha como tá rindo para o branco. Seu Carlos é um danado…

Joaquim tira Zefa para dançar. Zefa foi rindo, rindo de António Balduíno. Todos pensam que ele está enrabixado por Rosenda, que ela fez feitiço para prender o negro.

António Balduíno pede cachaça ao garçon, um capenga que anda com uma perna de pau. Na mesa vizinha um homem quer brigar com todo o mundo.

As negras dançam na sala. O Jazz se acaba de tanto entusiasmo. Rosenda está dançando. Carlos fala no seu ouvido. Isso é proibido. Porque é que seu Juvêncio não reclama? António Balduíno pensa:

 - Será que estou com dor de corno?

Que mulata bonitinha a que ficou sem dançar junto daquela velha gorda. Tem uma cara que é um primor. Uns peitinhos pequenos.

Rosenda passa perto da janela e ri. Porque é que António Balduíno não pode pensar na mulatinha? Pede mais cachaça. Tudo por causa daquele colar.

Mas ele havia de não dar o dinheiro a Vicente para a mulher de Clarimundo? Clarimundo morreu debaixo do guindaste. O colar azul. Ainda se fosse vermelho!

Rosenda passa outra vez se rindo. Ele acaba desfeiteando o chofer. Querem se rir dele? Parece que não conhecem o negro António Balduíno. Sente o contacto da navalha que está no cós da calça.

Fica um lapo bonito na cara de um. Demais o colar azul não ficaria bonito com o vestido verde. Outro copo de cachaça. Se fosse um colar vermelho…

Amanhã a mulher de Clarimundo começará a lavar roupa. Trabalho desgraçado. E ela é magra, acaba ficando tuberculosa.

Rosenda merece uma surra. Nunca nenhuma negra fez aquilo com ele. A sala está cheia. As negras de vestido de baile dançam como as mulheres elegantes.

Poucas mulheres se vestem tão bem como a negra Joana. Mas hoje Rosenda está mais bonita. O chofer está satisfeito, exibindo o par. O dinheiro do colar ele deu a Clarimundo.

O Jazz pára mas as palmas o obrigam a recomeçar. Na mesa vizinha um homem quer brigar seja com quem for, Balduíno se volta.

 - Tou com você, mulato.

 - Obrigado, patrício… Não vê que ninguém se mete comigo…

E reclama contra o garçon, reclama do companheiro da mesa.

 - Eu hoje faço um frege aqui

António Balduíno bem que podia pedir a Jubiabá que fizesse um feitiço para Rosenda ficar caidinha por ele. Um negro canta no Jazz:


«Mulata, tu me desprezaste…

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