No dia em que ele quiser... |
Episódio Nº 166
Irão para “A Lanterna dos Afogados”, para o cais
onde a noite é bonita. Saem da Baixa dos Sapateiros e descem a Ladeira do
Taboão. Finalmente o Gordo descobriu uma estrela que nunca tinha visto.
Espie… Uma
estrela nova… Aquela é minha.
O Gordo ganhou uma estrela e vai satisfeito.
Jubiabá diz que as estrelas são os homens valentes que morrem. Hoje deve ter
morrido um homem valente, um homem que mereça um ABC pois o Gordo descobriu uma
estrela nova.
Joaqui m
procura uma e não encontra. António Balduíno pensa em quem teria morrido esta
noite. Tem gente valente em toda a parte. Quando ele morrer brilhará no céu
também.
O Gordo descobrirá ou talvez seja descoberto por
uma criança, por um moleque da rua que peça esmola e tenha uma navalha no cós
da calça.
Eles gostam de passear assim pelas ruas desertas
quando a lua é cheia e ilumina a cidade com sua luz amarela. Não anda ninguém
pelas ruas, as casas têm as janelas fechadas, os homens dormem.
Eles são novamente donos da cidade como no tempo
em que mendigavam. São os únicos homens livres da cidade. São malandros, vivem
do que aparece, cantam nas festas, dormem no areal do cais, amam as mulatas
empregadas, não têm horários de dormir e acordar.
Zé Camarão nunca trabalhou. Já está começando a
envelhecer e sempre foi malandro, desordeiro conhecido, tocador de violão,
jogador de capoeira.
António Balduíno foi o seu melhor discípulo. E
foi além do mestre. Foi tudo na vida. Até trabalhador nas plantações de fumo,
jogador de boxe e artista de circo.
Porém vive é de fazer um samba de quando em vez e
de cantá-lo nas festas dos negros da cidade. Joaqui m
trabalha quatro, cinco dias por mês, quando tem vontade.
Carrega malas para outros carregadores que estão
com muito serviço. O Gordo vende jornais quando Balduíno não está na Baía.
Balduíno chega, acabou-se tudo.
Vai atrás do negro naquela vida gostosa de não
fazer nada, de viver à solta na cidade que dorme. António Balduíno pergunta:
- A gente
vai ancorar na “Lanterna dos Afogados”?
- Vai,
sim…
A Ladeira do Taboão é silenciosa a estas horas da
noite. O serviço no velho elevador já terminou e a torre se debruça sobre a
cidade. Nas janelas mais altas brilham luzes. São as mulheres da vida que
voltaram da rua e despacham os últimos homens.
Joaqui m
assobia um samba. Eles vão calados. Só o assobio do Joaqui m
corta o silêncio. António Balduíno vai pensando no que Amélia lhe contou, na
história de Lindinalva.
Agora ela deve estar sem orgulho e ele na hora
que qui ser poderá possuí-la. Ela não
é mais a sua patroa, a filha rica do comendador, é uma mulher da vida que está
na Ladeira do Taboão e se vende aos homens por qualquer dois mil reis.
Como as coisas mudam! No dia em que ele qui ser subirá as escadas do sobrado onde ela está e
a terá nos seus braços.
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