quinta-feira, novembro 14, 2013

O Brasil e um mundo intolerante

(Prof. Luiz Marins)
           

Nestes tempos em que estamos vivendo, onde ninguém,  em nenhum lugar do mundo, está a salvo – tanto dos ataques dos terroristas de todos os matizes quanto dos que a eles declararam guerra mundial – é importante ressaltar que em qualquer análise que se faça do mundo contemporâneo, o Brasil desponta como a “Capital Mundial da Tolerância”.

O Brasil é um País visto e reconhecido como um lugar pacífico, de um povo tolerante – até tolerante demais para os que gostariam de ver nosso povo mais indignado com nossas mazelas. Aqui convivem, na pureza ou na falsidade (pouco importa desde que convivam de maneira tolerante e pouco violenta), brancos e negros, árabes e judeus, católicos e protestantes, corintianos e palmeirenses, flamenguistas e vascaínos.

O maior problema do mundo de hoje é a intolerância. Grupos radicais, são exatamente “radicais” por não serem tolerantes com as diferenças, com os opostos, com a opinião discordante. A intolerância faz com que o meu “deus” seja o único verdadeiro. A minha opinião a única certa. A minha verdade, a única verdade.

A intolerância é radical. A intolerância é violenta pela própria natureza da não-aceitação a não ser do que considero certo, do que entendo como justo, do que acredito como verdadeiro, da minha e somente minha verdade.

Podemos criticar com veemência a passividade do brasileiro. Podemos nos indignar pela falta de reação às condições de desigualdade social e distribuição de renda de nosso País. Podemos até concluir que esse excesso de tolerância das camadas mais oprimidas do Brasil seja um grande fator limitante em nossas conquistas sociais. Mas só essa constatação é prova em si mesma de nossa tolerância. Se ela é demais ou de menos não quero discutir neste texto. Se ela é o que faz do brasileiro um povo que se diz feliz ou se ela é um ópio que anestesia o espírito de luta de nosso população mais carente, também não quero discutir aqui. O fato é que a tolerância é uma marca registrada do brasileiro. Das “diretas já!” ao “apagão”, o povo “se conforma” e segue a vida, acreditando mais um vez e colaborando com autoridades e governos.

E só mesmo quem já viveu em países onde a intolerância predomina para dar valor à tolerância. Quem não viveu, quem não experimentou, não sabe o que é ser eternamente marcado por sua origem étnica, sua crença religiosa, seus valores mais íntimos e até pelo que pensa no mais íntimo de seu ser. Quem não viveu em países onde a intolerância impera, não sabe o que é conviver com o medo de ser diferente, de falar diferente, de vestir-se diferente, de olhar diferente. Há inúmeras formas de violência dirão muitos. Há a violência física, mas há também a violência da exclusão social e econômica. Há a violência da indiferença e tantas outras. É verdade. Mas nenhuma violência é mais violenta do que o medo e nenhum medo é maior do que o da morte violenta.

Se no Brasil, temos a violência nas grandes cidades, fruto das desigualdades, incendiadas pelo narcotráfico, maximizadas pelo descaso das camadas mais privilegiadas, a verdade é que ainda assim temos a marca da tolerância. A violência urbana no Brasil é fruto da desigualdade social e econômica e não da intolerância religiosa, das diferenças de cor da pele, do amendoado dos olhos, do tecido que envolve o corpo. Isso faz uma grande diferença, porque a desigualdade social e econômica pode ser resolvida ou minorada com programas e projetos sérios, com vontade política. A intolerância étnica, religiosa, política ou ideológica que seja, parece não ter solução, nem teórica. Que falem os conflitos na Irlanda do Norte, nos Balcãs, na Espanha, no Oriente Médio.

Sendo a “Capital Mundial da Tolerância” o Brasil pode fazer do limão que é mundo em vivemos a possível limonada que poderá tirar a sede de nossas desigualdades internas.
Distante do fundamentalismo radical, o Brasil pode e deve colocar-se para o mundo como o melhor e seguro destino turístico, por exemplo. Segundo todas as análises, o sector terciário da economia (comércio e serviços) será o grande gerador de emprego e renda neste Século XXI. E no sector terciário, o turismo desponta como principal gerador de riquezas. A indústria do turismo é ecologicamente correta, gera empregos em todas as camadas – do arquitecto ao garçom – desloca a riqueza para regiões distantes dos grandes centros fixando o homem em sua região, estimula a produção – desde alimentos a supérfluos – gerando assim um círculo virtuoso e uma cadeia produtiva das mais ricas e complexas. Um grande resort ou hotel emprega desde a manicure e o jardineiro, até o especialista em tratamento de esgotos e o engenheiro de manutenção. Da simples camareira ao sofisticado “chef” de cozinha não há no setor do turismo ninguém dispensável, nenhuma função que não seja essencial.

E é importante ressaltar que o turismo do Século XXI é o turismo ambiental, o eco-turismo, o turismo da natureza. Americanos, europeus, japoneses – afinal o povo rico do mundo e que pode gastar com turismo – não quer ver cidades grandes e pouco vem se interessando por museus e igrejas velhas. Tudo isso eles já possuem. Querem sentir a natureza, andar nas trilhas rústicas de uma montanha ensolarada. E nisso, mais uma vez, o Brasil é imbatível.

Nenhum País do mundo tem Cataratas do Iguaçu, Pantanal, Chapadas do Centro Oeste, Floresta Amazônica, 7.000 km de praias ensolaradas. Tudo isso fora a beleza natural de um Rio de Janeiro, das possibilidades do turismo rural no interior de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, etc. e das oportunidades do turismo de negócios, eventos e gastronómico de uma cidade como São Paulo.

Agora é a hora de enxergar a oportunidade na crise. Com dólares nos bolsos, o turista estrangeiro tem no Brasil um destino dos mais baratos do mundo e com qualidade similar a outros destinos “perigosos” pela intolerância e pela guerra declarada que estamos vivendo.

Pense ser você um europeu. Imagine-se um americano. Acredite ser um japonês. Para onde irá? Onde escolherá para passar suas férias? Oriente Médio? Sudeste Asiático? Nova York? Londres?Paris? Tóquio? África do Sul?

Não me parecem destinos seguros. Talvez os únicos destinos que se comparem ao Brasil hoje sejam a Austrália e a Nova Zelândia e estes são muito distantes da Europa e dos EUA, com passagens aéreas caríssimas se comparadas ao Brasil. E como a grande massa de turistas do primeiro mundo é composta por pessoas da chamada “terceira idade”, mais ainda o custo da passagem, a segurança, o sol e o calor da tolerância, fazem a diferença.

E o turismo interno? Para onde iremos nós brasileiros?

Sem dúvida o Brasil se apresenta como a melhor opção externa e interna. As convenções e viagens de incentivo programadas para o exterior, serão feitas no Brasil. A viagem comemorando aquelas bodas de prata não serão mais na Europa, menos ainda nos EUA. Iremos para o nosso Bonito no Pantanal, Fortaleza, Manaus, Foz do Iguaçu, Salvador, Maceió, Porto Seguro, Chapada Diamantina. Podemos escolher. Temos beleza e natureza às mancheias.

E a verdade, é que, embora, muitas vezes simples,  o atendimento, a cortesia, a atenção, a alegria e mais uma vez a tolerância do brasileiro faz com que o turista sinta-se no Brasil como se estivesse num outro mundo – diferente, encantador, privilegiado pela própria natureza.

Agora é, pois, hora de autoridades, associações, sindicatos, agências, companhias de aviação, hotéis, restaurantes, enfim, todos os agentes da indústria do turismo, se unirem. Agora é a hora de vender o Brasil e o Brasil todo como um destino global de qualidade. Assim, é preciso que façamos uma acção coordenada do Sul, Sudeste, Centro Oeste, Norte, e Nordeste, governos federal, estaduais e municipais, conselhos de turismo, etc.,  para que o turista sinta-se num País só, com qualidade e segurança, já que preço baixo, por certo ele já terá.

Agora é a hora de motivar os brasileiros dentro e fora do turismo, mostrando a todos e fazendo-os compreender as vantagens estratégicas competitivas do Brasil no sector turístico. Para que passem a encarar com seriedade absoluta esse grande gerador de emprego e renda, que poderá tornar-se a grande redenção da população mais simples, do homem excluído, das regiões mais distantes que até hoje parece que só Deus olhou. A oportunidade passa uma vez só ou poucas vezes. Se soubermos agarrá-la venceremos. Se a perdermos continuaremos chorando a falta de sorte; desunidos, continuaremos culpando-nos uns aos outros e continuaremos deitados neste berço, realmente esplêndido, chamado Brasil.



NOTA - Por três vezes estive no Brasil. De uma delas passei uma semana em João Pessoa onde o meu falecido sobrinho tinha uma casa.

Uma das outras vezes, no final do ano de 1995, passei o fim de ano no Rio de Janeiro, na praia de Copacabana com mais de um milhão de cariocas que em quinze minutos "caíram" da marginal no areal em abraços e festejos. Um deles me abraçou como se fosse meu irmão! Foi surpreendente  a sinceridade e espontaneidade do gesto...

Finalmente, uma excursão a várias cidades do Nordeste e aí, na minha qualidade de português, fiquei rendido à cidade da Baía que na parte antiga parecia a minha velha Lisboa. Quase me senti em casa...

Dos nordestinos, conheço-os bem através de Jorge Amado, o meu escritor de eleição, como já devem ter percebido... aqueles coronéis e os nossos morgados...

Dos brasileiros, aquilo que mais me apetece dizer é que nos contactos, é um povo de pessoas doces, alegres, dadas, com uma identidade muito própria e a grande vantagem de falarem a mesma língua que eu.

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