sexta-feira, novembro 22, 2013

Quero caixão branco para ela...
JUBIABÁ

Episódio Nº 169




Volta com o menino, Jubiabá não estava. Ninguém sabia para onde ele tinha ido e António Balduíno o procurou inutilmente. Amaldiçoou o velho feiticeiro.

A criança vem pela sua mão e se dá bem com ele. Tem o nariz de Lindinalva. As mesmas sardas na cara. Pergunta muita coisa, quer saber de tudo. António Balduíno explica e se admira da paciência que tem.

Carrega o menino na escada. Amélia avisa, abafando os soluços:

 - Entre, ela está morrendo…

António Balduíno deposita a criança junto da cama. Lindinalva abre os olhos:

 - Filhinho…

Quis sorrir, se torceu numa careta. A criança fica com medo e começa a chorar. Amélia a afasta depois de Lindinalva beijar-lhe as faces.

Ela queria beijar os lábios carnudos do filho, os lábios que eram de Gustavo. Mas não pode…

Agora chora e tem pena de morrer. Ela que pediu a morte tantas vezes. Pressente que há mais alguém no quarto. Pergunta a Amélia:

 - Quem é?

Amélia fica confusa sem saber se deve dizer. Mas Balduíno se aproxima com os olhos baixos. Se um dos amigos o visse agora talvez não compreendesse por que ele está a chorando.

Lindinalva o reconhece:

 - Baldo… Fui ruim com você…

 - Deixe disso…

 - Me perdoe.

 - Não diga isso… Não faça eu chorar…

Ela passa a mão na carapinha do negro e morre dizendo:

 - Ajude Amélia a criar meu filho, Baldo… Olhe por ele…

António Balduíno se joga nos pés da cama como um negro escravo.

Ele quer que o caixão seja branco como caixão de virgem. Mas ninguém o compreende nem Jubiabá que sabe tanta coisa.

O Gordo só concorda porque é muito bom mas no fundo está espantado porque nunca viu caixão de prostituta ser branco.

Apenas Amélia parece compreender:

 - Você gostava muito dela, não era? Eu fiz intriga… Andava com ciúmes dos patrões gostarem tanto de você. Há vinte anos que eu estava com eles. Eu criei a menina. Ela merecia um destino melhor. Tão boazinha…

Então António Balduíno estende as mãos e explica com aquela voz pesada que tem de quando em vez:

 - Ela era virgem, gente… Eu juro que era… Ninguém teve ela… Ela não foi de ninguém… Vivia disso mas não se dava… Só eu é que tive ela… Só eu gente… Quando eu andava com uma mulher tava com a cabeça nela… Quero um caixão branco para ela…

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