Quero caixão branco para ela... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 169
Volta com o menino,
Jubiabá não estava. Ninguém sabia para onde ele tinha ido e António Balduíno o
procurou inutilmente. Amaldiçoou o velho feiticeiro.
A criança vem pela sua
mão e se dá bem com ele. Tem o nariz de Lindinalva. As mesmas sardas na cara.
Pergunta muita coisa, quer saber de tudo. António Balduíno explica e se admira
da paciência que tem.
Carrega o menino na
escada. Amélia avisa, abafando os soluços:
- Entre, ela está morrendo…
António Balduíno deposita
a criança junto da cama. Lindinalva abre os olhos:
- Filhinho…
Quis sorrir, se torceu
numa careta. A criança fica com medo e começa a chorar. Amélia a afasta depois
de Lindinalva beijar-lhe as faces.
Ela queria beijar os
lábios carnudos do filho, os lábios que eram de Gustavo. Mas não pode…
Agora chora e tem pena de
morrer. Ela que pediu a morte tantas vezes. Pressente que há mais alguém no
quarto. Pergunta a Amélia:
- Quem é?
Amélia fica confusa sem
saber se deve dizer. Mas Balduíno se aproxima com os olhos baixos. Se um dos
amigos o visse agora talvez não compreendesse por que ele está a chorando.
Lindinalva o reconhece:
- Baldo… Fui ruim com você…
- Deixe disso…
- Me perdoe.
- Não diga isso… Não faça eu chorar…
Ela passa a mão na
carapinha do negro e morre dizendo:
- Ajude Amélia a criar meu filho, Baldo… Olhe
por ele…
António Balduíno se joga
nos pés da cama como um negro escravo.
Ele quer que o caixão
seja branco como caixão de virgem. Mas ninguém o compreende nem Jubiabá que
sabe tanta coisa.
O Gordo só concorda
porque é muito bom mas no fundo está espantado porque nunca viu caixão de
prostituta ser branco.
Apenas Amélia parece
compreender:
- Você gostava muito dela, não era? Eu fiz
intriga… Andava com ciúmes dos patrões gostarem tanto de você. Há vinte anos
que eu estava com eles. Eu criei a menina. Ela merecia um destino melhor. Tão
boazinha…
Então António Balduíno
estende as mãos e explica com aquela voz pesada que tem de quando em vez:
- Ela era virgem, gente… Eu juro que era… Ninguém
teve ela… Ela não foi de ninguém… Vivia disso mas não se dava… Só eu é que tive
ela… Só eu gente… Quando eu andava com uma mulher tava com a cabeça nela… Quero
um caixão branco para ela…
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