quarta-feira, dezembro 04, 2013

Evolução

para Todos

David Sloan Wilson

(continuação)




Essa «grande arte da conversa» consistia no artístico desfiar de provérbios, que em si mesmos já são tão artísticos como pedras polidas.

«Ela fica com ele como a lua fica no céu. Quando chega a hora ela parte».

«Temos os nossos defeitos, mas não somos homens vazios que ficamos brancos quando vemos branco e pretos quando vemos preto»

«A grande árvore escolhe onde crescer e é aí que a encontramos, e o mesmo acontece com a grandeza dos homens.»

O fosso entre o pensamento alfabetizado e o oral também é ilustrado por uma série de entrevistas que o grande psicólogo russo Alexander Luria fez a camponeses analfabetos na década de 30.

As entrevistas foram realizadas no ambiente não ameaçador de uma casa de chá. Embora beber chá sentados a uma mesa deva ter ajudado a diminuir a distância social, não podia diminuir a distância mental entre Luria como membro de uma sociedade alfabetizada e os seus convidados como membros de uma sociedade camponesa que permanecia essencialmente oral.

Quando lhes foi pedido que identificassem figuras geométricas, os camponeses nunca responderam com termos abstractos como «círculo» ou «quadrado», mas com nomes práticos como «prato» ou «espelho».

Quando Luria lhes mostrou desenhos de um martelo, de uma serra, de um machado e de um tronco perguntando-lhes a que categoria pertenciam três deles e a qual pertencia o quarto, os camponeses foram incapazes de separar os três instrumentos do tronco.

Em vez disso, continuaram a pensar em usar as ferramentas no tronco:

 - São iguais, A serra vai serrar o tronco e o machado vai cortá-lo em pedacinhos. Se algum deles tiver de desaparecer, eu atirava fora o machado. Ele não faz um trabalho tão bom como uma serra.»

Os camponeses pareciam particularmente intrigados com as perguntas sobre si mesmos, como revela o diálogo que segue:

 Pergunta:

 - «Que género de pessoa é? Como é o seu carácter? Quais são as suas qualidades e defeitos? Como se descreveria?

 Resposta:

 - «Sou de Uch-Kurgan. Eu era muito pobre e agora sou casado e tenho filhos.»

Pergunta:

 - «Está satisfeito consigo ou gostaria de ser diferente?»

Resposta:

 - «Era bom se tivesse um pouco mais de terra e se pudesse semear trigo.»

Pergunta:

 - «Quais são as suas falhas?»

Resposta:

 - «Este ano semeei uma arroba de trigo, e aos poucos temos estado a resolver as falhas.»

Pergunta:

 - «Bem, as pessoas são diferentes umas das outras: calmas, irritadiças, às vezes têm falta de memória. Que pensa de si?»

Resposta:

 - «Nós portamo-nos bem. Se fossemos maus ninguém nos respeitava.»
(continua)

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