Hoje é Domingo

(15 de Dezembro de 2013 na minha cidade de Santarém)

E agora? Parece-me que a Igreja de Roma com o Papa Francisco se está a meter por um novo caminho.

Com a “entrevista” de Jesus da Nazaré a Raquel ficámos a saber, de acordo com dados históricos, quem, como e porquê foi fundada a Igreja Católica do Vaticano.

Jesus, que já tinha saído de cena há mais de três séculos, foi o inspirador com a sua mensagem de justiça, igualdade, humildade, simplicidade, pobreza, amor entre os homens e a promessa de um novo reino, o reino dos céus.

No entanto, como se sabe, aconteceu tudo ao contrário. A Igreja dita de Cristo foi montada sobre a ostentação, poder e riqueza, que incluiu o trono, o manto e o palácio do Imperador Constantino.

O que era pobreza, humildade e solidariedade entre as comunidades cristãs ferozmente perseguidas, coube-lhes, ironia do destino, a herança de um Imperador e de um Império estrebuchante que fez da violência, da opressão e da intransigência as armas com que forjou um domínio de centenas de anos sobre os povos da Europa e do Norte de África por toda a bacia mediterrânea.

Igualmente curioso e contraditório, é que foi a mensagem de Jesus da Nazaré que inspirou uma Igreja que com a fé dos seus seguidores, emprestou a coesão a um império moribundo que se desagregava sem solução à vista.

O Papa Francisco recebeu essa Igreja de opulência, de vestes sumptuosas, de templos revestidos por dentro a ouro, de altos dignitários instalados nas cúpulas da sociedade de braço dado com ditadores – o nosso cardeal Cerejeira e Salazar – e homens de dinheiro e de poder.

Mas Francisco, - que é da escola dos franciscanos – nunca foi homem para essas coisas das “vaidosices” e agora está aberto um precedente que se constitui num problema para os da sua Cúria e sê-lo-á para os Papas vindouros que vão ter de decidir se seguem o seu estilo ou se regressam ao anterior para grande desilusão dos crentes por todo o mundo.

O arcebispo alemão, George Gausuein, que era o Secretário do Papa Bento XVI, que resignou, continua igualmente a ser o “prefeito” do Papa Francisco e está a ficar desorientado:

 - “Tenho a impressão de viver em dois mundos” -  confidenciou ele.

 - “Tenho que ser honesto comigo próprio. Cada dia espero que algo de novo aconteça”.

O Papa Francisco renunciou a viver nos luxuosos aposentos papais sobranceiros à Praça do Vaticano o que é considerado uma “afronta” para com os seus antecessores. Vive na Casa de Santa Marta onde trabalham os funcionários do Vaticano e por lá passa, diariamente, gente de todo o mundo, a quem Francisco saúda e com quem, se calha, troca impressões.

Quer ao almoço, quer na missa matinal, as pessoas têm o Papa ali à mão, podendo abeirar-se dele sem barreiras. Os telefonemas pessoais que faz para toda a gente, alguns acabam por ser revelados, são outro sinal que não existem filtros numa comunicação a que ninguém estava habituado.

E Francisco não se cansa de chamar a atenção nas suas homilias, para a “cultura do bem estar” que torna as pessoas “insensíveis aos gritos dos outros como se vivessem dentro de bolas de sabão muito bonitas por fora mas sem nada, pura ilusão do fútil, do provisório”.

A sua linguagem é clara e acessível com o uso constante de comparações do quotidiano que ele bem conhece.

A 7 de Junho, num encontro com alunos de um Colégio de Jesuítas, foi muito claro:

 - “Para um cristão, é uma obrigação envolver-se na política… a política é uma das formas mais altas de caridade, porque busca o bem comum”.

Enfim, “um escândalo…” se o Cardeal Cerejeira ouvisse isto…

Quem se lembra hoje do recatado Bento XVI?

Francisco, ao fim de nove meses, foi considerado o Homem do Ano pela revista Time, enquanto que o seu antecessor durante seis anos nunca o foi.

O Papa Francisco não silenciou esta distinção da vida mundana e afirmou ter “ficado muito feliz” porque tal distinção atrai homens e mulheres e lhes dá esperança”