segunda-feira, dezembro 30, 2013

Jorge Amado (1941) à data do Jubiabá
JUBIABÁ




Terminou a história de António Balduíno que Jorge Amado nos contou daquela forma que só ele sabe.

Baldo, era um menino negro, de uma favela nos arredores da cidade da Baía da qual era sobranceira. Órfão de pais, criado com desvelo por uma tia que acabaria por enlouquecer, foi lançado na rua, depois de fugir da casa do seu protector para ser líder de um bando de miúdos que sobreviviam bem porque eram mestres no pedir.

 Protegido pelo pai de santo, Jubiabá, ele aprendeu a lutar e tal era a vocação que seguiu a carreira de boxeur mas um escondido desgosto de amor fê-lo perder um combate e abandonar a profissão.

Atirou-se ao mundo e trabalhou nas plantações de tabaco, no circo, mas nunca deixou de criar sambas de grande sucesso, que vendia, anónimos, a um poeta da cidade.

Reencontrou, já quase no fim da história, a filha do seu antigo amo que o tinha adoptado e da casa de quem saíra por intrigas que a criada, invejosa, lhe moveu. 

Lindinalva, a filha do patrão, era a jovem que ele sempre amou em silêncio desde criança e por muitas mulatas e negrinhas que tivesse derrubado na areia da praia do cais, em pensamento, ele só fizera amor com ela.

A menina acabou mal. O pai derreteu a fortuna e tudo quanto tinha foi para pagar dívidas contraídas numa vida dissoluta com mulheres. A mãe morreu e o noivo abandonou-a com um filho nos braços. Nada de pior podia ter acontecido a esta jovem criada na abastança.

 Impreparada para a vida mergulhou na prostituição para sustentar a criança que ficara com a sua velha criada. Desceu todos os degraus da vida desgraçada que levava até ao ponto em que já só se sai para o hospital ou directamente para o cemitério.

Baldo reencontra-a, então, já no leito da morte e ela, em despedida, acaricia-lhe a carapinha e pede-lhe que tome conta do filho.

Sem rumo, sem finalidades na vida, António Balduíno, leva a peito o encargo como um testamento a cumprir do único  e verdadeiro  amor que teve, e vai trabalhar para a estiva, no porto da cidade, para fazer face àquela responsabilidade.

Ele, que sempre desprezara os operários e todos os que aceitavam o servilismo de um emprego, aí o temos na primeira grande reviravolta da sua vida.

A segunda, veio com o seu envolvimento nas lutas sindicais e na greve geral dos trabalhadores da cidade que reivindicavam uma melhoria de salário.

Ganhou essa luta e a sua vida começou a fazer verdadeiro sentido. O caris social desse combate conferiu-lhe outra dignidade, tornou-o cidadão, não mais um brigão aventureiro sem eira nem beira.

Os trilhos da vida têm o seu quê de caprichosos e Jorge Amado mostrou-nos como por vezes, à beira de soçobrar num mundo dominado pela exploração do ser humano, é possível, lutando pelas causas justas e certas, encontrar o rumo, uma justificação para a vida e ganhar direito a ter um A B C.

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