Lá em casa tem arraia que chegue... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 192
Ela não era contra a greve, não. Achava
que eles tinham razão, que o salário era muito pequeno e não dava. Eles estavam
no seu direito de pedir mais, deixar de trabalhar até que os patrões
aumentassem o salário.
Mas temia os dias que iam se seguir. Não
havia mais comida em casa, nas dos vizinhos faltaria logo e aonde é que o
sindicato arranjaria dinheiro para sustentar tanta gente?
Se a greve demorasse mais alguns dias a
fome os derrubaria. Chega à janela. Na casa vizinha aparece Ercídia:
-
Seu Clóvis já chegou, Helena?
-
Ainda não, sinhá Ercídia…
É capaz de não vim…Henrique me disse que
não esperasse… A greve está braba hoje e os homens precisam de estar na rua.
A negra sorria.
-
Acho que vou jantar sem ele…
Sorriu novamente. Mas porque Helena não
sorri, não acha graça? Ela está chorando. Ercídia sai e entra na casa da
vizinha:
-
O que é Helena?
O fogão está parado na cozinha. A negra
alisa a cabeça da outra.
-
Não se importe, menina, deixe de besteira. Lá em casa tem arraia que chegue.
E
depois eles ganham a greve e a gente tem mais dinheiro. Helena sorri entre
lágrimas.
Após acomodar as crianças, que ficaram
dormindo, Helena bota um xaile nos ombros e toma o caminho da Graça, onde mora
dona Helena Ruiz, esposa do patrão do seu marido.
Ela fora lavadeira de dona Helena, que
era uma senhora sempre preocupada em fazer o bem aos pobres e que a chamava e
que a chamava sem nenhuma besteira de «xará».
-
Veja lá minha xará. Quero esta roupa bem alva…
Apesar de riquíssima, Dona Helena
continuava a tomar conta da sua casa. Dizia que quem não tem nenhuma ocupação
se ocupa com pensamentos ruins. E se bem que tivesse muita festa a que ir,
cinemas a assistir, passeios a dar, arranjava sempre tempo para zelar pela
casa.
O marido rogava que entregasse aqui lo às criadas, que não estragasse os seus vinte e
dois anos risonhos, mas ela não dava ouvidos:
-
Se eu entregar isso a empregadas você nunca mais terá uma roupa que preste. E
demais eu gosto…
O marido a beijava no rosto e depois iam
ao cinema muito unidos. Ele lhe contava os negócios, falava orgulhoso da
prosperidade das «Panificações Reunidas», ela sorria satisfeita do marido que
Deus lhe dera.
Ele dizia:
-
Você é quem me dá coragem. Se não fosse você não sei o que seria de mim…
Fora por intermédio de Dª Helena que
Clóvis arranjou emprego na padaria.
A lavadeira pedira à patroa, no outro
dia Clóvis tivera o lugar.
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