Nós somos operários e não assassinos... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 196
Clóvis ficou ouvindo os
discursos no sindicato. A greve tomou um carácter novo depois dos tiroteios. Os
homens estão agitados e querem reagir. Dá trabalho contê-los.
São lançados manifestos
exigindo a liberdade imediata para os grevistas presos. Correm notícias as mais
desencontradas. Certa hora um operário entra correndo na sala e avisa que a
polícia vai atacar o sindicato.
Todos se preparam para
reagir. Mas fora rebate falso. Em todo o caso é esperado a qualquer momento. Às
nove horas da noite o caso dos estivadores é resolvido com a vitória dos
grevistas.
Porém, em sessão realizada
no seu sindicato eles declaram que continuarão a parede até que sejam
solucionadas as questões dos padeiros e dos operários da Circular.
E vão todos para os
sindicatos dos últimos levar a resolução. Em meio aos discursos estoura uma
notícia. A polícia prendera vários operários e queria obrigá-los a trabalhar
debaixo de pancadas.
O sindicato está agitado
como um mar. Saem todos. Vão comissões conferenciar com os choferes das
marinetis e dos carros de praça. Outros vão-se entender com os operários de
fábricas diversas.
Um grupo grande marcha
para os escritórios da companhia Circular para fazer uma manifestação de
desagrado. Os ânimos estão exaltados ao máximo. São dez horas da noite.
Em frente aos escritórios
da companhia está parado um automóvel. É o “Hudson” do director, um americano
que ganha doze contos por mês. E ele vem de charuto na boca, descendo as
escadas. O chofer prepara o carro.
António Balduíno que vem
no grupo de grevistas grita:
- Vamos prender ele, pessoal. Assim a gente
também tem um preso.
O director é cercado. Os
guardas que garantiam o prédio correm. António Balduíno o agarra por um braço e
rasga a roupa branca. Gritam da multidão:
- Lincha! Lincha!
António Balduíno levanta o
braço para descarregar o soco. Mas uma voz se faz ouvir. É Severino quem fala:
- Nada de bater no homem. Nós somos operários
e não assassinos. Vamos levá-lo para o Sindicato.
António Balduíno baixa o
braço com raiva. Mas ele compreende que aqui lo
é necessário, que a greve não é feita por um mas por todos. E entre os gritos o
americano é levado para o sindicato dos operários da Circular.
A notícia da prisão do
americano corre rápida pela cidade. A polícia quer que ele seja solto. O
Consulado americano se move.
Os grevistas exigem que
sejam postos em liberdade todos os presos políticos. E que não obriguem os
operários a trabalhar.
Às onze horas os que
estavam presos aparecem no sindicato. Dizem que o Cônsul americano pedira que a
polícia os soltasse com medo que os operários matassem o director da Companhia.
Este vai em paz depois de
ouvir alguns dichotes. No sindicato reina o maior entusiasmo. António Balduíno
diz ao negro Henrique:
- Esse foi assim… Mas se aquele doutor Gustavo
cair em minhas mãos, ah!...
E esfrega as mãos,
satisfeito da vida. A greve é uma coisa boa.
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