segunda-feira, dezembro 23, 2013

Nós somos operários e não assassinos...
JUBIABÁ

Episódio Nº 196





Clóvis ficou ouvindo os discursos no sindicato. A greve tomou um carácter novo depois dos tiroteios. Os homens estão agitados e querem reagir. Dá trabalho contê-los.

São lançados manifestos exigindo a liberdade imediata para os grevistas presos. Correm notícias as mais desencontradas. Certa hora um operário entra correndo na sala e avisa que a polícia vai atacar o sindicato.

Todos se preparam para reagir. Mas fora rebate falso. Em todo o caso é esperado a qualquer momento. Às nove horas da noite o caso dos estivadores é resolvido com a vitória dos grevistas.

Porém, em sessão realizada no seu sindicato eles declaram que continuarão a parede até que sejam solucionadas as questões dos padeiros e dos operários da Circular.

E vão todos para os sindicatos dos últimos levar a resolução. Em meio aos discursos estoura uma notícia. A polícia prendera vários operários e queria obrigá-los a trabalhar debaixo de pancadas.

O sindicato está agitado como um mar. Saem todos. Vão comissões conferenciar com os choferes das marinetis e dos carros de praça. Outros vão-se entender com os operários de fábricas diversas.

Um grupo grande marcha para os escritórios da companhia Circular para fazer uma manifestação de desagrado. Os ânimos estão exaltados ao máximo. São dez horas da noite.


Em frente aos escritórios da companhia está parado um automóvel. É o “Hudson” do director, um americano que ganha doze contos por mês. E ele vem de charuto na boca, descendo as escadas. O chofer prepara o carro.

António Balduíno que vem no grupo de grevistas grita:

 - Vamos prender ele, pessoal. Assim a gente também tem um preso.

O director é cercado. Os guardas que garantiam o prédio correm. António Balduíno o agarra por um braço e rasga a roupa branca. Gritam da multidão:

 - Lincha! Lincha!

António Balduíno levanta o braço para descarregar o soco. Mas uma voz se faz ouvir. É Severino quem fala:

 - Nada de bater no homem. Nós somos operários e não assassinos. Vamos levá-lo para o Sindicato.

António Balduíno baixa o braço com raiva. Mas ele compreende que aquilo é necessário, que a greve não é feita por um mas por todos. E entre os gritos o americano é levado para o sindicato dos operários da Circular.

A notícia da prisão do americano corre rápida pela cidade. A polícia quer que ele seja solto. O Consulado americano se move.

Os grevistas exigem que sejam postos em liberdade todos os presos políticos. E que não obriguem os operários a trabalhar.

Às onze horas os que estavam presos aparecem no sindicato. Dizem que o Cônsul americano pedira que a polícia os soltasse com medo que os operários matassem o director da Companhia.

Este vai em paz depois de ouvir alguns dichotes. No sindicato reina o maior entusiasmo. António Balduíno diz ao negro Henrique:

 - Esse foi assim… Mas se aquele doutor Gustavo cair em minhas mãos, ah!...

E esfrega as mãos, satisfeito da vida. A greve é uma coisa boa.

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