Vocês não sabe nada... |
JUBIABÁ
Episódio Nº 178
António Balduíno se
recorda das plantações de fumo enquanto caminha na rua. Um homem passa
encostado na parede. Segura a carteira por cima do paletó. Quem o visse diria
que ele vai segurando o coração.
A cidade é envolvida pelos
sons do batuque que vêm da macumba de Jubiabá. Hoje esses sons de batuque soam
aos ouvidos do negro António Balduíno como sons guerreiros, como sons de
libertação.
A estrela que é Zumbi dos
Palmares brilha no céu claro. Um estudante certa vez se riu do negro António
Balduíno e disse que aquela estrela não era estrela, era o planeta Vénus.
Mas ele ri do estudante
porque sabe que aquela é a estrela de Zumbi dos Palmares, negro valente que
morreu para não ser escravo, é Zumbi que brilha no céu e vê o negro António
Balduíno lutando para que Gustavinho não seja escravo.
Aquele dia de greve fora
dos mais bonitos da sua vida. Tão bonito como a fuga através do mato, furando o
cerco dos capangas. Tão bonito como o dia em que ganhou o campeonato de boxe,
derrubando Vicente. Mais bonito até.
Ele agora sabe porque
luta. E vai assim depressa para avisar todos os negros que estão na macumba de
pai Jubiabá.
Vai avisar a todos: ao
Gordo, ao Joaqui m, a Zé Camarão, a
Jubiabá. Ele não compreende porque Jubiabá ainda não lhe ensinara a greve.
Jubiabá que sabia tudo,
Zumbi dos Palmares, que é o planeta Vénus, pisca para ele do céu.
Será que Exu, Exu, o
diabo, está perturbando a festa? Será que se esqueceram de fazer o despacho de
Exu, se esqueceram de enviá-lo para bem longe, para o outro lado do mar, para a
costa de África, para os algodoais da Virgínia?
Exu está teimando em vir à
festa. Exu quer que cantem e dancem em sua homenagem, Exu quer saudação, Exu
quer saudação, quer que Jubiabá se incline perante ele e diga:
- Ókê! Ókê!
Quer que a mãe do terreiro
peça passagem para o santo:
- «Edurô dêmim
Ionam ô yê!
Quer que a assistência
repita em coro:
- «A umbô k’ó wá
jô!
Exu não vai embora. É a
primeira vez que aqui lo acontece
numa macumba de Jubiabá. Os sons do batuque escorregam pela ladeira e vão
morrer lá em baixo nos becos da cidade grevista.
As feitas dançam. Os ogans
olham espantados. António Balduíno penetra de manso na festa. Ele é ogan e toma
seu lugar dentro do círculo das feitas que dançam. E com a sua presença Exu vai
embora.
O Gordo diz que a festa é
de Oxossi. Mas antes que o deus da caça venha dançar no corpo de uma feita,
António Balduíno fala:
- Meu povo, vocês não sabe nada… Eu estou pensando
na minha cabeça que vocês não sabe nada…
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