Ainda as Praxes
Académicas
As praxes que estiveram na origem da morte estúpida de seis jovens continuam, como não podia deixar de ser, notícia puxada pela TVI que iniciou a averiguação.
Sabemos, por ela, que se tratou de uma realidade muito mais complexa do que o simples e inofensivo mas ridículo desfile de caloiros.
A Democracia e a liberdade trouxeram, e ainda bem, a disseminação de Estabelecimentos de Ensino Superior, públicos e privados, um pouco por todas as cidades do país que num desejo de se assimilarem às velhas e tradicionais Universidades de Lisboa e Coimbra, da Capa e Batina, logo desencadearam as praxes académicas e, como tudo o que nasce por imitação, tentaram ultrapassar o imitado por excessos e exageros do tipo "mais papistas que o Papa".
Aquilo que vimos e nos foi mostrado aproxima-se das cerimónias de iniciação características de sociedades primitivas em que os jovens, enquadrados pelos mais velhos, são submetidos a uma série de práticas que os testam na coragem e capacidade de sofrimento para poderem passar para um novo estatuto social de homens e mulheres reconhecidos socialmente.
A vida de uma sociedade primitiva em contacto directo com a natureza envolve riscos, pressupõe conhecimentos ensinados pelos mais velhos desde o nascimento e requer coragem, serenidade e uma atitude de humildade perante o perigo.
As praxes que vinham a ocorrer na praia do Meco, se eram uma forma de iniciação, estavam erradas, eram inúteis e não representavam nenhuma atitude de humildade perante a vida e muito menos perante a natureza porque o mar não se enfrenta de noite, de costas viradas e de mãos atadas...
Se as Associações Académicas pretendem fazer uma cerimónia para integrarem os caloiros através dos alunos veteranos, promovam um "almoço de recepção aos caloiros", façam discursos, ponham-nos falar e eles não esquecerão mais esse dia.
Os actos de violência física ou de humilhação são aquilo que são independentemente da sua graduação. Podem terminar com a morte, como foi o caso do Diogo Macedo em Famalicão ou estes agora na praia do Meco, como podem também traduzirem-se em sequelas psicológicas ou simples recordações desagradáveis da vida estudantil.
Desenvolveu-se no espírito dos estudantes que submeterem-se à praxe os promove socialmente no seio dos colegas para um outro patamar que implica mais respeito... e afinal não passa de uma "curiosidade" bizarra da vida estudantil em Portugal que não existe em qualquer outro país da Europa.
Vê-los autorizados e sancionados pelas autoridades académicas e pelos governos representa uma cobardia perante uma "força" que tem expressão eleitoral e convém não hostilizar. Por isso, na Assembleia da República, o único partido que pretende ilegalizar as praxes é o Bloco de Esquerda...
E não vale a pena disfarçar com "regras anti-violência" como forma de perpetuar as praxes porque elas, pela sua própria natureza, vivem da violência e da humilhação... maior ou menor.
Para aquele grupo de alunos agora envolvidos no trágico acidente, mortos ou sobreviventes, deu para perceber que o ensino, os estudos e as aulas estavam em segundo plano.
Importante... importante...eram as praxes, até morrer por elas.
Pobres pais... pobre família... é neles que eu penso. Digerirem este desaparecimento dos filhos e netos vai ser um processo doloroso que os vai marcar enquanto vivos na parte dos seus seres que não foi também arrastada pelas ondas.
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