Académicas
A morte de seis jovens arrebatados pelas
ondas, noite a dentro, na praia do Meco, trouxe ao conhecimento da população
revelações que mostram a enormidade a que chegou o comportamento dos jovens
universitários envolvidos nesse movimento de estudantes denominado “praxes académicas”.
Também fui estudante e a minha atitude
relativamente às praxes - nesse tempo reduzidas a umas cachaçadas - foi sempre de repulsa, quase alergia, a começar pelo
uso da capa e batina que mais não é do que uma usurpação feita aos estudantes
de Coimbra e a velhas tradições daquela Faculdade.
Ainda hoje, perante a disseminação por
todas as escolas e locais de ensino, universitário, secundários ou primários,
como de uma praga se tratasse, eu só espero que amanhã não chegue aos jardins
escolas.
Quando eles desfilam, ridiculamente
mascarados, no passeio por detrás da minha rua no início dos anos lectivos aqui em Santarém, eu chamo a minha neta Filipa, de
oito anos, para ela ver a “figura triste” que eles fazem. Ela olha-os de forma
reprovadora e chama-lhes de meninos parvos.
Aqui
começa o papel dos pais e dos avós para o despertar de um sentido crítico que,
sem ir mais longe, se pode ficar pela “figura triste”. Felizmente, esta minha
neta tem um superávite de auto estima, forte personalidade que lhe confere,
julgo eu, uma natural defesa para comportamentos alienantes.
Tudo o que está por dentro deste movimento
de praxes é perigoso para uma sociedade em que a democracia e os seus valores já
estão em risco.
Códigos de honra, termos de
responsabilidade, "dux" “veteranorum”, hierarqui as
complexas, pactos de silêncio, estranhas “experiências de vida” treinadas em
fins-de-semana como preparação para o exercício de actos de humilhação e violência sobre colegas indefesos e estupidamente passivos... O que é isto?
Quem são estes jovens? De onde vêm? Das
juventudes partidárias? Da JSD? Da juventude democrata cristã?
Venham eles de onde vierem está a dar-se-lhes
uma importância e protagonismo que eles não merecem.
Ontem, um deles, entrevistado na
televisão, dizia muito orgulhoso, perante o pasmo do entrevistador, que no Código
de honra da praxe, no seu artigo nº 1, dizia-se que o “caloiro deve ser tratado
como um ser humano…”
Pasme-se!
Estes jovens não percebem nada do que é
importante na vida em termos de salvaguarda de valores e princípios.
Será
que eles estudaram alguma coisa do que foi a Europa no tempo dos regimes
fascista e nazi contemporâneo dos seus avós, a maior parte deles ainda vivos?
Nunca leram nada? Nunca viram documentários,
filmes?
A reacção dos poderes instituídos é débil,
contemporizadora, medrosa, quase respeitadora... Refere-se aos excessos, provavelmente aos mortos e traumatizados
das experiências de violência e dos actos de humilhação, outra violência das praxes, como se tudo o resto
estivesse bem, como se a praxe fosse algo de normal, saudável, inevitável, como o trânsito
automóvel que sempre provoca vítimas.
Não, meus amigos, aqui lo que vimos e foi mostrado nestes últimos dias
na televisão foi um tirocínio, idêntico, como arremedo, ao curso que eu tirei de
preparação militar para a guerra subversiva nas colónias portuguesas então, em
nome da pátria, ou talvez de um curso para funcionário superior da PIDE...
Estes, agora, em nome de uma tradição fascizante, reaccionária, conservadora, filha de crises de identidade, que o 25
de Abril eliminou completamente e de que os jovens dessa altura tinham
vergonha.
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